14º Domingo do Tempo Comum - Os anunciadores do Reino

01/07/2013 21:53

Os anunciadores do Reino 

reino

 

1ª Leitura: Is 66,10-14c
Sl 65
2ª Leitura: Gl 6,14-18
Evangelho: Lc 10,1-12.17-20

-* 1 O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois, na sua frente, para toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E lhes dizia: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita. 3 Vão! Estou enviando vocês como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não parem no caminho, para cumprimentar ninguém. 5 Em qualquer casa onde entrarem, digam primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se aí morar alguém de paz, a paz de vocês irá repousar sobre ele; se não, ela voltará para vocês. 7 Permaneçam nessa mesma casa, comam e bebam do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem passando de casa em casa. 8 Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês, 9 curem os doentes que nela houver. E digam ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vocês!’ 10 Mas quando vocês entrarem numa cidade, e não forem bem recebidos, saiam pelas ruas e digam: 11 ‘Até a poeira dessa cidade, que se grudou em nossos pés, nós sacudimos contra vocês. Apesar disso, saibam que o Reino de Deus está próximo’. 12 Eu lhes afirmo: no dia do julgamento, Deus será mais tolerante com Sodoma do que com tal cidade.

A alegria do discípulo -* 17 Os setenta e dois voltaram muito alegres, dizendo: «Senhor, até os demônios obedecem a nós por causa do teu nome.» 18 Jesus respondeu: «Eu vi Satanás cair do céu como um relâmpago. 19 Vejam: eu dei a vocês o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo, e nada poderá fazer mal a vocês. 20 Contudo, não se alegrem porque os maus espíritos obedecem a vocês; antes, fiquem alegres porque os nomes de vocês estão escritos no céu.»


* 10,1-16: Os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem aderir à Boa Notícia ficarão fora da nova história.

* 17-20: Os milagres realizados são motivo de alegria para os discípulos que retornam. No entanto, Jesus mostra que são apenas sinais de uma libertação muito mais ampla, que ameaça o domínio de Satanás. A verdadeira alegria dos discípulos é saber que a novidade do Reino está surgindo, e que eles estão participando dela.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

Missão dos seguidores de Jesus

Quando eu era coroinha e acompanhava o padre, de batina e estola, pelas ruas da vila, distribuindo a comunhão aos enfermos e, entrando nas casas que o esperavam, o padre dizia, em latim: “Pax huic domui”, “Paz a esta casa!” Poucos gestos cristãos aproximam-se mais da missão que Jesus confiou a seus discípulos do que este. “Em qualquer casa em que entrardes, dizei: Paz a esta casa… Curai os enfermos…” (Lc 10,5.9). Mas também: “Dizei ao povo: O Reino de Deus está próximo!” (10,9) (evangelho). E esta missão não é só dos doze apóstolos, mas de setenta e dois discípulos que Jesus mandou depois da missão dos Doze. Lc pensa numa ampliação da missão dos Doze, que representam a missão a Israel (as doze tribos). Os setenta e dois lembram os setenta e dois povos de Gn 10 e os tantos profetas-anciãos de Nm 11,24-30 (na interpretação rabínica, porta-vozes da Lei para o mundo inteiro). Depois da primeira propagação do evangelho de Cristo a Israel, outros o levaram para o mundo inteiro – tema caro a Lc, evangelista do mundo universal, trilhando os passos do apóstolo Paulo. A mensagem é enviada a todos, e todos que creem no Cristo podem ser mensageiros (a encíclica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI ensina que todos os evangelizados são evangelizadores).

E qual é o conteúdo da mensagem? O Reino de Deus. Este se caracteriza pela “paz”, no sentido abrangente que este termo tem na Bíblia: a harmonia total entre Deus e os homens, e entre os homens mutuamente. Todos somos chamados a sermos portadores desta paz, assim como Jerusalém, renovada pela graça de Deus, depois do exílio, deve ser exuberante fonte que alivie a sede das nações com a paz que vem de Deus (Is 66,11-12; Ia leitura). Missão urgente: não perder tempo com equipamento que mais atrapalha do que ajuda (grande problema dos missionários modernos … ), não passar horas com amplas saudações orientais (as “indispensáveis” visitinhas dos padres às boas cozinhas de sua paróquia … ). Porque a mensagem da paz é salvadora e muitos a esperam. Muitos aguardam uma esperança que possa levantar sua vida desanimada e desnorteada.

Vida desnorteada, porque há quem não está interessado na paz de Deus e sim no engano, nas falsas promessas de bem-estar, na competição e, finalmente, no mútuo extermínio. Não apresenta a publicidade abertamente o sobrepujar os outros como fonte de felicidade, oferecida pelos mais diversos produtos da produção industrial? Diante disso, a mensagem da paz de Deus não é “pacífica” (cf. Lc 12,51). Quanto às casas e cidades que não forem dignas da paz messiânica, os enviados devem sacudir até o pó que grudou nos pés, em testemunho contra elas. Mas saibam, mesmo assim: “O Reino de Deus está próximo” (10,6.1 0-11). Para anunciar a paz, o evange1izador deve enfrentar o conflito; sabem-no muito bem os membros das comissões de “Justiça e Paz” …

A missão do cristão não é, antes de tudo, propagar alguma pia obra e nem mesmo a própria instituição da Igreja. É evangelizar, anunciar uma boa-nova, o verdadeiro alívio do homem que sinceramente busca o sentido último de sua vida, Deus. Quem anuncia isso não deve complicar sua missão com coisinhas. Seja a “paz” em pessoa, não no sentido de comodismo, mas de benfazeja doação. Por isso, só pode ser evangelizadora “nova criatura” de que Paulo fala no emocionante final de Gl (2ª leitura). A antiga criatura foi crucificada com Cristo, na cruz (6,14). Para quem é nova criatura, surge, como o sol, a paz e a misericórdia de Deus. Bênção, paz e misericórdia sobre todo o “Israel de Deus” (o povo universal dos chamados), diz Paulo, com uma reminiscência das “Dezoito Preces” que o judeu piedoso reza diariamente (6,16).

Será hoje uma oportunidade para acentuar: “A paz do Senhor esteja sempre convosco”, voto que, no fim da celebração, se transforma em missão: “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe” – sede portadores da paz do Cristo!

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes. 

“Paz a esta casa”

A liturgia de hoje revive o anúncio da paz no tempo dos profetas e no tempo dos discípulos de Jesus.

A 1ª leitura é da terceira parte de Isaías. Os judeus levados ao cativeiro babilônico estão de volta, e sua comunidade recebe, pela boca do profeta, a missão de levar ao mundo inteiro a paz – a harmonia com Deus e com os homens. É essa também a missão que Jesus confia aos setenta e dois discípulos (evangelho). Jesus não contava somente com os doze apóstolos, que representavam as doze tribos e os doze patriarcas, mas também com um grupo mais amplo: setenta e dois, como os anciãos (chefes de família) sobre os quais desceu o Espírito durante a estadia no deserto (cf. Nm 11,24-30). Os setenta e dois representam a assembleia guiada pelo espírito de Deus. Eles têm de sair pelos caminhos e pregar ao povo a chegada do Reino de Deus, anunciando: “Paz a esta casa”, a esta família. E o sinal dessa paz são os fatos extraordinários que os acompanham: curas, expulsões de demônios …

A “paz”, que se pode traduzir também “felicidade”, na Bíblia, não é apenas o silêncio das armas, sobretudo a harmonia com Deus e com todos os seus filhos: o bem-estar conforme o plano de Deus. É a síntese de todo o bem que se pode esperar de Deus; por isso, vai de par com o anúncio de seu Reino. Essa paz não cai como um pacote do céu, nem se faz em um só dia. É uma realidade histórica. É fruto da justiça (Hb 12,11; Tg 3,18). A paz cresce em meio às vicissitudes da história humana, em meio às contradições. Mas a fé que fixa os olhos na paz que vem de Deus nos orienta em meio a todos os desvios. Anunciar a paz ao mundo, apesar de todos os desvios, é como as correções de rota que um avião continuamente tem de executar para não se desviar definitivamente. Jesus manda seus discípulos com a mensagem da paz, para que o mundo se anime a continuar procurando o caminho do Reino.

Concretamente, anunciar a paz de Cristo acontece não só por palavras, mas por atos. Não basta falar da paz, mas é preciso mostrar em que ela consiste, realizando atos exemplares. É preciso, também, construí-la aos poucos, pacientemente, pedra após pedra, implantando passo a passo novas estruturas, que eliminem as que são contrárias à paz. Muitas pessoas entendem paz como “deixar tudo em paz”. Mas a paz não é tão pacifica assim! Por isso Jesus manda anunciar a paz como algo que vem juntamente com o Reino de Deus. Devemos transformar aos poucos o mundo para que este anúncio não fique uma palavra vazia.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes. 

 

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