15º Domingo do Tempo comum - O amor é prática concreta

08/07/2013 08:52

O amor é prática concreta 

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1ª Leitura: Dt 30,10-14
SL 68
2ª Leitura: Cl 1,15-20
Evangelho: Lc 10,25-37

* 25 Um especialista em leis se levantou, e, para tentar Jesus perguntou: «Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna?» 26 Jesus lhe disse: «O que é que está escrito na Lei? Como você lê?» 27 Ele então respondeu: «Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo.» 28 Jesus lhe disse: «Você respondeu certo. Faça isso, e viverá!» 29 Mas o especialista em leis, querendo se justificar, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30 Jesus respondeu: «Um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto. 31 Por acaso um sacerdote estava descendo por aquele caminho; quando viu o homem, passou adiante, pelo outro lado. 32 O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu, e passou adiante, pelo outro lado. 33 Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão. 34 Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. 35 No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, e as entregou ao dono da pensão, recomendando: ‘Tome conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais’.» E Jesus perguntou: 36 «Na sua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?» 37 O especialista em leis respondeu: «Aquele que praticou misericórdia para com ele.» Então Jesus lhe disse: «Vá, e faça a mesma coisa.»


* 25-37: O primeiro a colocar obstáculos no caminho de Jesus é um teólogo. Este sabe que o amor total a Deus e ao próximo é que leva à vida. Mas, não basta saber. É preciso amar concretamente. A parábola do samaritano mostra que o próximo é quem se aproxima do outro para lhe dar uma resposta às necessidades. Nessa tarefa prática, o amor não leva em conta barreiras de raça, religião, nação ou classe social. O próximo é aquele que eu encontro no meu caminho. O legista estabelecia limites para o amor: «Quem é o meu próximo?» Jesus muda a pergunta: «O que você faz para se tornar próximo do outro?»

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

O mandamento que conduz à vida eterna

Um bom conselho vale mais que o ouro. Para os teólogos deuteronomistas (séc. VIII-VI a.c.), a Lei de Moisés era um inigualável tesouro de sabedoria, um rumo seguro para a vida, em todas as circunstâncias. Para tê-la sempre diante dos olhos, deviam colocá-la numa faixa, na testa (Dt 6,8; cf. Ex 13,9 etc.). Os deuteronomistas enfrentavam um tempo de afrouxamento em Israel, mais ou menos como nós, hoje. A quem achava as orientações de Deus, na Lei, bastante difíceis, Dt responde: “Não é verdade. A Lei não é coisa do outro mundo, ninguém a precisa procurar no céu ou no inferno” (1ª  leitura). “Ela está perto de ti”. De fato, mais perto do que na faixa da testa, dificilmente poderia estar. Mas não é só naquela faixa que ela está perto. Ela é uma palavra viva, lembrada continuamente pelos próprios profetas, que viviam no meio do povo.

Um especialista da Lei, no tempo de Jesus, procurava, na multidão de prescrições, saber o que devia fazer para herdar a vida eterna, a vida da era vindoura, do Reino que Deus estabeleceria no mundo para sempre (pois é assim que se concebia a vida eterna) (evangelho). Jesus o remete à Lei ensinada por Moisés. Pergunta o que aí se encontra. O escriba responde: amar Deus acima de tudo, e o próximo como a si mesmo. “É isso mesmo que deves fazer”, responde Jesus. Novamente: não é coisa de outro mundo!

Mas o especialista da Lei é também especialista em subterfúgios. “Quem é meu próximo?” Todos nós estamos de acordo que devemos amar nosso próximo. Mas quem é ele? Minha velha tia rica, prestes a ceder sua herança, ou meu empregado, com cuja família nada tenho a ver?

Como argumentar não adiante, Jesus conta uma história. Um homem cai em mãos de ladrões. Passa um sacerdote, mas não tem tempo para parar, pois deve celebrar um sacrifício. Passa um especialista das leis de pureza (um levita); este tem medo de sujar as mãos com o sangue do homem que ficou semimorto na beira da estrada. Passa, depois, um inimigo, um samaritano, talvez um concorrente do homem que foi assaltado. E este cuida do homem às suas próprias custas. E agora, Jesus pergunta não mais quem é o próximo a quem se deve fazer obras caritativas, mas quem é o próximo do homem que foi assaltado. A inversão da pergunta é significativa, porque o especialista da Lei é obrigado a responder que um vil samaritano é próximo de um judeu assaltado. Para todos nós, isso significa: eu sou próximo de quem eu encontro no meu caminho, chamado à solidariedade com ele.

Ao analisar o texto, mostram-se detalhes mais significativos ainda. O samaritano “comiserou-se”, “aproximou-se”; uma linguagem que poderia ser aplicada ao próprio Deus. Deus comiserou-se do homem e tornou-se seu próximo, e salvou-o às suas próprias custas: custou a vida de seu Filho. O próximo, “aquele que comiserou do homem” (Lc 10,37), é Deus mesmo. “Vai e então não precisarás mais perguntar quem é teu próximo e terás a vida eterna, porque desde já estarás vivendo a vida de Deus mesmo.

Gostamos muito de escolher nossos próximos. Está errado. Somos próximos de quem encontramos; e este, então, é automaticamente nosso próximo também. Talvez ele pertença a um mundo bem diferente do nosso, mas é nosso próximo, porque nós fomos colocados perto dele.

A 2ª  leitura é uma das obras-primas do N.T. A idéia principal é a unidade da ordem da criação e da redenção, em Cristo. Cristo é a cabeça da redenção, assumindo a todos na sua glória, porque ele é também a cabeça da criação. O hino de Cl 1,15-20 expressa isso em termos que lembram firmemente o prólogo de João e os textos que falam da Sabedoria como hipóstase unida a Deus desde antes da criação do mundo (Pr 8; Eclo 24; Sb 7). A figura da Sabedoria que preside à criação, identificada com Cristo, é combinada com a imagem paulina de Cristo, cabeça da Igreja, que é seu corpo. No pensamento bíblico, todo o corpo participa da realidade de seu princípio vital (no caso, a cabeça). No sacrifício e na glória de Cristo, assume-se todos o universo na reconciliação com Deus. A “plenitude” (termo helenístico-gnóstico, indicando o “uno”, ou seja, o ser perfeito) mora nele: a plenitude de Deus, englobando todos os seus filhos.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Amor ao próximo - solidariedade

Os profetas de Israel teceram os mais sublimes elogios à Lei de Deus. Aliás, o termo “lei” traduz mal o que a Bíblia hebraica chama a torah; melhor seria traduzir por “instrução” ou “ensinamento”. Era um caminho de vida (1ª  leitura). Mesmo assim,  havia quem achasse a Lei complicada e procurasse um resumo ou pelo menos um mandamento-chave que por assim dizer resumisse a Lei. A pergunta foi feita também a Jesus, e ele respondeu, sem hesitar:  ”Amar a Deus com todas as forças e ao próximo como a si mesmo” (evangelho). O amor ao próximo é o dever número um do cristão. S. Paulo (Gl 5,13) e S. Tiago (Tg 2,8) resumem toda a moral cristã neste único mandamento. S. João nos diz que é impossível amar a Deus sem amar ao irmão (1Jo 4,21). Não se pode amar ao Pai sem amar os filhos. Mas o que é amar? E quem são nossos próximos?

Depois de interpelar Jesus a respeito do primeiro mandamento, o mestre da Lei pergunta quem é o próximo. Jesus não lhe dá uma resposta direta. Conta-lhe a história do bom samaritano. Os judeus não consideravam os samaritanos como “próximos”, como candidatos à sua solidariedade. Eram inimigos de sua comunidade. Os membros da comunidade judaica, a esses era preciso “amá-los como a si mesmo” (Lv 19,18), e o mesmo valia com relação aos estrangeiros vivendo no meio dos judeus (Lv 19,35). Mas os samaritanos não. Ora, exatamente um samaritano torna-se solidário com um judeu jogado à beira da estrada, depois que dois ilustres “próximos” judeus, um sacerdote e um levita, deram uma volta para não se incomodar com o compatriota assaltado …

Jesus não respondeu diretamente ao mestre da lei, porque a questão não é descobrir quem é e quem não é próximo. Coração generoso se torna próximo de qualquer um que precisa; a melhor maneira de ter amigos é ser amigo. A questão também não é teórica, mas prática. Na prática esquecemos a parábola de Jesus e fazemos como o sacerdote e o levita: afastamo-nos do necessitado, mesmo se pertence à nossa comunidade, e não “nos aproximamos” dele. Tornar-se próximo é ser solidário. Somos solidários com os que vivem na margem da estrada de nossa sociedade? Mesmo quando damos uma esmola a um coitado, não é para nos desviarmos dele? “Vai e faze a mesma coisa” … Imitar o samaritano exige solidariedade, assumir a vida do outro, não se livrar dele. Torná-lo um irmão, pois este é o sentido verdadeiro da palavra “próximo”.

Como está a solidariedade nesse tempo em que a doutrina da competição, do lucro e do proveito ilimitado solapou o tecido social, as relações de gratuidade entre as pessoas?

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

 

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