REFLEXÃO DO 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

24/09/2012 14:10

 

“Quem não está contra nós, está a nosso favor”

26º Domingo do Tempo Comum/Ano B
1ª Leitura: Nm 11,25-29
Sl 18
2ª Leitura: Tg 5,1-6
Evangelho: Mc 9,38-43.45.47-48

Quem está a favor de Jesus? -* 38 João disse a Jesus: «Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue.» 39 Jesus disse: «Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. 40 Quem não está contra nós, está a nosso favor.

41 Eu garanto a vocês: quem der para vocês um copo de água porque vocês são de Cristo, não ficará sem receber sua recompensa.

Cortar o mal pela raiz -* 42 E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço. 43 Se a sua mão é ocasião de escândalo para você, corte-a. É melhor você entrar para a vida sem uma das mãos, do que ter as duas mãos e ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga. 45 Se o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o. É melhor você entrar para a vida sem um dos pés, do que ter os dois pés e ser jogado no inferno. 47 Se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o. É melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só, do que ter os dois olhos e ser jogado no inferno, 48 onde o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga.

* 38-41: Jesus não quer que o grupo daqueles que o seguem se torne seita fechada e monopolizadora da sua missão. Toda e qualquer ação que desaliena o homem é parte integrante da missão de Jesus. 
* 42-50: Pequeninos são os pobres e fracos que esperam confiantes uma sociedade fraterna e igualitária. Eles ficariam escandalizados se os seguidores de Jesus andassem à busca de poder e formassem casta privilegiada. Isso seria trair a missão de Jesus, mal que deve ser cortado pela raiz.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

Ser discípulo sem rivalidade

Antes, Mc falou em acolher pequenos “em nome de Jesus”. Encadeando outras sentenças no mesmo item, passa agora ao assunto do exorcizar “em nome de Jesus” (associação verbal, muito comum na tradição oral dos primeiros cristãos) (evangelho).

Logo nos albores da comunidade cristã, milagreiros e exorcistas não cristãos, notando a força do “nome de Jesus” (cf. At 3,6.16; 4, 10), tentavam usar esse
nome em seus “trabalhos”. Mas os cristãos exigiam direitos autorais. Como resposta, Mc traz uma sentença de Jesus: “Quem não é contra nós, é por nós”. Resposta de bom senso e desapego évangélico, pois o importante é que o nome de Jesus seja honrado. Mas quem considera o grupo mais importante que o nome de Jesus fica indisposto. Não aceita que os dons cristãos floresçam fora da Igreja.

Jesus presta pouca atenção a esse tipo de objeções. Os que por ele foram reunidos não devem pensar que eles são os únicos em quem possa operar seu espírito. Ser reunido por Cristo é uma graça, mas não um monopólio. Pelo contrário, devemos desejar que seus beneficios sejam espalhados o mais amplamente possível. Já Moisés deu aos hebreus uma lição neste sentido. No momento da assembléia dos setenta anciãos que receberam “algo do espírito de Moisés”, dois tinham ficado no acampamento; porém, receberam também o espírito profético. Josué quer impedi-los, mas Moisés retruca: “Oxalá o povo todo recebesse assim o espírito” (1ª leitura).

Estas idéias escandalizam aqueles para quem o grupo é tudo. Ora, não a Igreja em si, mas Cristo e seu espírito são o mais importante. (Não se alegue o velho adágio: “Extra Ecclesiam nulla salus”, pronunciado contra os que abandonavam a Igreja.) Mas escandalizam-se também os que só conhecem aquela outra sentença de Jesus: “Quem não é comigo, é contra mim” (Mt 12,30 = Lc 11,23), pronunciada num contexto de inimizade (os escribas acusam Jesus de expulsar demônios pela força de Beelzebu); pois em tal contexto, é preciso escolher: quem não se coloca do lado de Jesus se coloca do outro. Mas isso nada tem a ver com o caso de alguém que recebe os dons do Cristo fora da Igreja.

Sempre no item do “nome”, Jesus promete recompensa pelo mínimo benefício feito a alguém “em nome de ser do Cristo” (9,41). E já que se estava falando também de “pequenos” (cf. v. 37), cabe dizer algo sobre o escândalo dado aos pequenos (9,42). E, continuando com o item “escândalo”: a gente tem que erradicar de sua vida as raízes do escândalo, as causas das fraquezas na fé, assim como se amputa uma mão quando ela põe o corpo em perigo (ou como se extrai um dente quando causa enxaqueca) (9,43-48).

O evangelho trata, portanto, de assuntos diversos. Ora, o conjunto da liturgia acentua o tema da ação de Deus fora da assembléia “oficial”. Este ponto deve reter a atenção da catequese litúrgica, e é muito importante em nosso ambiente, onde macumbistas e espíritas fazem “trabalhos” em nome de Jesus (e com sucesso). Existe uma mentalidade de combater o sincretismo religioso. Talvez seria mais evangélico ponderar – sem esconder os problemas – o bem que eventualmente façam e reconhecer que lá também Deus pode levar alguém a colocar em obra o seu amor. Tal atitude mostrará a face compreensiva da Igreja, procurando reconhecer em tudo o bem – e levaria menos pessoas a procurar a umbanda por não encontrar resposta humana num catolicismo formalizado e ríspido (11).

11. Pensando no diálogo em torno de problemas econômicos e ecológicos de nosso mundo, devemos pensar nas coisas boas que podem ser feitas “em nome de Jesus” mediante pensamentos que não nasceram no âmbito da cristandade.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

Pensamento inclusivo 

A cristandade tradicional caracterizava-se por atitudes exclusivistas. Só a Igreja católica estava certa… Dizia-se que quem morre fora da Igreja católica vai ao inferno. (Deveria ser mandado ao inferno quem fala assim…)

O evangelho conta um episódio que nos ensina o contrário. Os discípulos ficam nervosos porque alguém anda expulsando demônios no nome de Jesus, sem fazer parte do grupo deles. Naquele tempo, todo tipo de tratamento sugestivo estava na moda, como hoje. Visto que Jesus era o sucesso do momento, alguns que não eram de seu grupo usavam seu nome para expulsar uns demoniozinhos. Que mal havia nisso? Nenhum, mas os discípulos queriam direitos autorais!

A liturgia ilustra o problema com outro episódio. O povo de Israel andando pelo deserto, o Espírito desce sobre a assembléia dos anciãos. Mas dois não foram à assembléia e receberam o Espírito assim mesmo. Os outros reclamam. Então, Moisés responde: “Oxalá todo o povo de Deus profetizasse e Deus infundisse a todos o seu espírito” (1ª leitura).

Nem todos os cristãos são tão mesquinhos assim que pretendem reservar para a própria agremiação os dons de Deus. Desde o Humanismo, bem antes do Concílio Vaticano II, os educadores cristãos ensinavam que os pagãos Platão e Virgílio eram profetas, pois anunciaram coisas que, depois, se verificaram em Jesus. Houve até quem chamasse Karl Marx de profeta (com menos mérito, pois viveu bem depois de Jesus e repetiu muita coisa que Jesus e a Bíblia disseram antes dele…). As coisas boas que esses pagãos falaram não deixaram de ser um testemunho a favor de Jesus.

“Quem não é contra nós está em nosso favor” (Mc 9,40). Esta é a lição (Jesus disse também: “Quem não está comigo é contra mim”, Mt 12,30, mas isso, em caso de conflito e perseguição).

O nome de Jesus representa o Reino do Pai. O nome de Jesus se liga a uma realidade nova, a vontade de Deus. “Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois sair falando mal de mim” (Mc 9,39). Por tudo aquilo que ele disse e fez, pelo dom da própria vida, Jesus ligou a seu nome a nova realidade que se chama o “Reino de Deus”. Quem consegue usar o nome de Jesus como força positiva certamente colabora de alguma maneira com o Reino.

Não é preciso ser católico batizado para colaborar com os valores do evangelho. Os primeiros missionários no Brasil ficaram cheios de admiração porque os índios pagãos pareciam ter mais valores evangélicos que os colonos portugueses escravocratas. O testemunho do evangelho pode existir fora da comunidade cristã, e nós devemos alegrar-nos por causa disso.

Então, em vez de dizer que fora da Igreja não há salvação, vamos dizer: tudo o que salva expande o que esamos fazendo na Igreja. Pensamento inclusivo.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

doutrinacatolica2012.webnode.com