10º Domingo do Tempo Comum/Ano C

03/06/2013 09:01

 

10º Domingo do Tempo Comum/Ano C

Deus visitou o seu povo

1ª Leitura: 1Rs 17,17-24
Sl 29
2ª Leitura: Gl 1,11-19
Evangelho: Lc  7, 11-17

11 Em seguida, Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. 12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade ia com ela. 13 Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: «Não chore!». 14 Depois se aproximou, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Então Jesus disse: «Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!» 15 O morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram com muito medo, e glorificavam a Deus, dizendo: «Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo.» 17 E a notícia do fato se espalhou pela Judéia inteira, e por toda a redondeza.


* 11-17: A atividade libertadora de Jesus é a grande «visita» de Deus que vem salvar o seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo, que atende aos mais pobres e necessitados.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

A confiança da viúva e a ressurreição de seu filho

No tempo de Jesus, Israel esperava a volta do profeta por excelência, para preparar a “visita” de Deus. Havia certa dúvida se o profeta seria Moisés (Dt 18,16, interpretado no sentido de um novo Moisés) ou Elias (Ml 3,23-24). Mas, quando Jesus ressuscita o filho de uma viúva (evangelho), não hesitam em reconhecer nele o novo Elias: “Um grande profeta levantou-se entre nós!

Deus visitou seu povo!” Jesus é sinal da presença de Deus, com sua graça e misericórdia. Ele se “comiserou” (Lc 7,13), como o povo esperava de Deus, no seu Dia. No quadro do evangelho de Lc, esta narração tem ainda outra função: logo depois segue o episódio do Batista, que pergunta se Jesus é aquele que deve vir (o profeta escatológico). E a resposta de Jesus é: “Olha só o que está acontecendo: todas as categorias mencionadas nas profecias messiânicas (especialmente em Is 35,5-6) encontram cura, e até mortos são ressuscitados (Lc 7,11-17); e aos pobres é anunciada a boa-nova (programa de Jesus, cf. Lc 4,16-19 e Is 61,1); será que existe ainda dúvida?”

1ª  leitura é narrada para ilustrar como em Jesus se realiza a esperança do novo Elias (tema especialmente caro a Lc). É uma tipologia: Elias é o “primeiro esboço” (tipo) que é levado à perfeição em Cristo (antítipo). Por trás destas tipologias, frequentes na antiga teologia cristã, está a fé na continuidade da obra de Deus: o que ele tinha iniciado em Israel, levou-o a termo em Jesus Cristo. Que Jesus supera Elias aparece nos detalhes da narração: ele não é apenas “homem de Deus”, mas “o Senhor”; não precisa fazer todos os “trabalhos” que Elias fez para reanimar a criança …

Tanto a 1ª leitura como o evangelho revelam grande valorização da vida. Deus quer conservar seus filhos em vida. Isso está em violento contraste com a leviandade e até o desprezo que a vida humana enfrente em nossa sociedade. Deus se comisera para fazer reviver uma criança, enquanto nossa sociedade as mata ainda no útero. Será que poderemos novamente falar de uma visita de Deus, quando restaurarmos o sentido do valor da vida, não só no caso do aborto, mas também das guerras, repressão, torturas, poluição do ambiente, dos alimentos, do trânsito assassino, e, sobretudo, da fome? O salmo responsorial destaca também o valor da vida, que Deus dá.

2ª  leitura continua a leitura de Gl, iniciada no domingo passado. Para refutar as teorias dos “judaizantes”, não basta que Paulo recorra ao fato de pregar Jesus Cristo, pois também eles o pregam, ainda que com outras intenções. Então, para provar que seu “evangelho” é o verdadeiro, Paulo mostra a sua origem. Não foi ele mesmo, nem outro ser humano, que o inventou (1,11.16.19). Paulo faz questão de dizer que não foi instruído por homem algum. Quem fez de Paulo seu mensageiro foi Cristo mesmo, que o “fez cair do cavalo”; a transformação operada em Paulo, tomando o antigo rabino, fariseu e perseguidor, um apóstolo de Cristo, não é obra humana. E também seu evangelho não é obra humana. Por isso, este resumo de sua história pessoal é história da salvação …

 

oração do dia e a oração final sublinham a iniciativa e transformação que Deus assume em nossa vida. Num mundo do “ter e vencer” é bom lembrar esta realidade fundamental, não para levar ao fatalismo, mas à responsabilidade pelo plano de Deus, que é: que o homem viva, em todos os sentidos.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Deus visita seu povo

Em Israel, no tempo de Jesus, não havia situação pior que a da viúva. Tinha de se virar sozinha para se sustentar a si mesma e a seus filhos. Estes, por sua vez, eram a esperança de sua velhice, pois, ainda crianças, já podiam ajudar um pouco, e mais tarde cuidariam dela. A 1ª  leitura e o evangelho nos contam como respectivamente Elias e Jesus ressuscitam um filho de uma viúva: Elias, com muito trabalho; Jesus, com um toque de mão. Se Elias era um “homem de Deus”, um profeta, Jesus é o “Senhor”, e o povo exclama: “Um grande profeta nos visitou! Deus visitou o seu povo!”

Esta visita de Deus a seu povo é muito peculiar. Quando um governador ou presidente visita uma cidade, dificilmente vai parar para se ocupar com um cortejo de enterro que casualmente cruza seu caminho. Vai ver o prefeito, isso sim. Mas o Filho de Deus se torna presente à vida de uma pobre viúva que está levando seu filho – sua esperança – ao enterro. Deus visita os pobres e os pecadores: a viúva, Zaqueu … Aqueles que são abandonados pelos outros. Em Jesus, Deus nos mostra o caminho que conduz aos marginalizados.

Assim é o sistema de Deus, diferente do nosso. Enquanto nós gostamos de investir naqueles que já têm poder e influência, Jesus começa com aqueles que estão à margem da sociedade. O Reino de Deus começa na periferia. E revela-se um Reino da vida para os deserdados.

A visita de Deus deixa seu povo também com a “responsabilidade da gratidão”. O povo espalhou a fama de Jesus por toda a região. Mostrou que soube dar valor à visita que recebeu. A Igreja terá de celebrar a mesma gratidão por Deus, que faz grandes coisas aos pequenos. Muitos ainda não são capazes disso. Não se sabem alegrar com a visita de Deus aos pequenos. Por isso lhes escapa a grandeza da visita. Mas, afinal, quando é que sentimos Deus mais verdadeiramente próximo de nós: ao se realizar uma grande solenidade, ou quando um gesto de amor atinge uma pessoa carente?

 

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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