11º Domingo do Tempo Comum/Ano C - O perdão gera o amor

10/06/2013 08:54

 

11º Domingo do Tempo Comum/Ano C

O perdão gera o amor 

1ª Leitura: 2Sm 12,7-10.13
Sl 31
2ª Leitura: Gl 2,16.19-21
Evangelho: Lc 7,36-8,3

-* 36 Certo fariseu convidou Jesus para uma refeição em casa. Jesus entrou na casa do fariseu, e se pôs à mesa. 37 Apareceu então certa mulher, conhecida na cidade como pecadora. Ela, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou um frasco de alabastro com perfume. 38 A mulher se colocou por trás, chorando aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés. Em seguida, os enxugava com os cabelos, cobria-os de beijos, e os ungia com perfume. 39 Vendo isso, o fariseu que havia convidado Jesus ficou pensando: «Se esse homem fosse mesmo um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, porque ela é pecadora.» 40 Jesus disse então ao fariseu: «Simão, tenho uma coisa para dizer a você.» Simão respondeu: «Fala, mestre.» 41» Certo credor tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro lhe devia cinquenta. 42 Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» 43 Simão respondeu: «Acho que é aquele a quem ele perdoou mais.» Jesus lhe disse: «Você julgou certo.» 44 Então Jesus voltou-se para a mulher e disse a Simão: «Está vendo esta mulher? Quando entrei em sua casa, você não me ofereceu água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos. 45 Você não me deu o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46 Você não derramou óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47 Por essa razão, eu declaro a você: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Aquele a quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor.» 48 E Jesus disse à mulher: «Seus pecados estão perdoados.» 49 Então os convidados começaram a pensar: «Quem é esse que até perdoa pecados?» 50 Mas Jesus disse à mulher: «Sua fé salvou você. Vá em paz!»

As mulheres servem a Jesus -* 1 Depois disso, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.


* 36-50: O fariseu não se considera pecador; por isso, fica numa atitude de julgamento, e não é capaz de entender e experimentar o perdão e o amor. Jesus mostra que a justiça de Deus se manifesta como amor que perdoa os pecados e transforma as condições das pessoas. O amor é expressão e sinal do perdão recebido.

* 8,1-3: Jesus continua sua missão, e vai formando uma comunidade nova, a partir daqueles que são marginalizados pela sociedade do seu tempo, como eram as mulheres. Elas também são parte integrante do grupo que acompanha Jesus.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

O amor da pecadora e o perdão de seu pecado

Ao ler o evangelho de hoje, a gente se pergunta o que foi primeiro: o amor ou o perdão. Jesus diz: “Têm-lhe sido perdoados seus muitos pecados, porque muito amou”, e: “Têm sido perdoados teus pecados … tua fé te salvou” (Lc 7, 47-50). Será que os pecados foram perdoados porque mostrou muito amor, ou o contrário? A narração não permite distinguir claramente, mas também não importa, pois o mistério do perdão é que se trata de um encontro entre o homem contrito e Deus que deseja reconciliação. A contrição é o amor que busca perdão e o perdão é a resposta de Deus a este amor. A contrição é o amor do pecador, que se encontra com o amor de Deus, que é: perdão.

Jesus ilustra este mistério com uma dessas parábolas chocantes bem ao gosto de Lc: dois devedores, um com pouca e outro com muita dívida, são absolvidos. Quem é que gostará mais do homem que os absolveu? Quem tinha a dívida maior. É o caso desta meretriz, que lhe demonstrou efusivamente gestos de carinho e afeição. Mas o outro está aí também: o anfitrião de Jesus, que demonstrou pouco calor na acolhida de seu hóspede. Será que ele tinha poucas dívidas, portanto, recebeu pouco perdão e por isso só pôde amar um pouquinho? Então, seria bom “pecar firmemente e amar mais firmemente ainda”? A realidade talvez seja diferente. Pode ser que alguém não reconhece quanta dívida tem e, por isso, recebe pouca absolvição e mostra pouco amor. Já começa por aí: porque tem pouco amor, não é capaz de reconhecer a grande dívida que tem para com Deus, pois não percebe quão pouco ele corresponde ao amor infinito…

Medido com o critério de Deus, ninguém é justo. Todos são pecadores. Porém, os que fazem pecados “notáveis” tomam mais facilmente consciência de sua pecaminosidade. É o caso da meretriz, no evangelho, e de Davi, na 1ª  leitura. Os que fazem pecados mais difíceis de avaliar e acusar, como sejam o orgulho, a auto-suficiência, a inveja e coisas assim, mais dificilmente são lembrados de sua injustiça. Talvez observem perfeitamente as regras do bom comportamento. Os judaizantes da 2ª leitura, que querem impor aos pobres pagãos da Galácia as “obras da Lei” como meio de salvação, transformariam os gálatas em seres auto-suficientes iguais a si. “Não, diz Paulo, isso não posso permitir. Se fossem estas obras da Lei que salvassem, Jesus não precisava ter morrido” (Gl 2,2l).

Quem nos livra de nossa dívida é Deus. Só ele, que criou nossa vida, é capaz de restaurá-la na sua integridade. Quando perdoa pecados, Jesus revela que Deus está com ele (o que os comensais perceberam: Lc 7,49). Pedir perdão é dar a Deus uma chance para refazer em nós a obra de seu amor criador. Mas quem pouco o ama, não lhe dá essa chance …

A liturgia de hoje nos ensina outra coisa ainda. Davi foi lembrado de seu pecado por um porta-voz de Deus, o profeta Natã. Quando Natã lhe conta uma história bem semelhante à sua própria, Davi exclama: “Tal homem deve morrer” (2Sm 12,5; seria bom incluir na 1ª  leitura o trecho imediatamente anterior, a parábola de Natã). Mas para que reconheça seu próprio caso, é preciso que Natã lhe diga: “Esse homem és tu!” Nós temos em nós mesmos um porta-voz de Deus, que nos diz: “Esse homem és tu!”: nossa consciência. É preciso escutá-la. Então saberemos quão pouco correspondemos ao amor de Deus que fundou nossa via e a dos nossos irmãos. Então também entrarão em ação o amor do pecador, que se chama “contrição”, e o amor de Deus, que se chama “perdão”.

O salmo responsorial, Sl 32[3l], medita essa realidade. Ter seu pecado a descoberto diante de Deus e dos homens e apesar disso ser acolhido no amor de Deus e da comunidade é a maior felicidade (e a razão fundamental por que existe o sacramento da penitência).

Segundo a oração do dia, nada podemos sem a graça de Deus. Por isso, pedimos essa graça, para em nossos projetos e sua execução estarmos de acordo com o que Deus ama.

 

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Entrar na amizade de Deus pela fé e pelo amor

Será que Deus se sente mais feliz com a fria irrepreensibilidade dos “bem comportadinhos” ou com a afetuosa efusão dos excluídos e pecadores? Aliás, os próprios “irrepreensíveis”, se sentem felizes?

Jesus não tinha medo de pessoas mal-afamadas. Conforme o evangelho de hoje, Jesus aceitou até o carinho de uma prostituta! Enquanto ele estava, à maneira oriental, deitado à mesa na casa do fariseu Simão, chegou uma prostituta, regou-lhe os pés com suas lágrimas, secou-os com sua generosa cabeleira e perfumou-os com o rico perfume, adquirido com o dinheiro do pecado. Escândalo para a “gente de bem”. Mas Jesus aponta o mistério profundo que está agindo por trás das aparências: a mulher mostrou tanto amor, porque encontrou tamanho perdão! Enquanto o fariseu não demonstrou carinho para com Jesus, porque achava que nada tinha a ser perdoado … Jesus explica isso por meio de uma parábola: um devedor a quem é perdoado muito mostrará mais gratidão do que um que pouco tem a ser perdoado. Enquanto o fariseu continua “na sua”, a pecadora encontra a salvação: “Tua fé te salvou” (Lc 7,50).

Há muitas espécies de fariseus, de pessoas satisfeitas consigo mesmas. Há os fariseus clássicos, os “bem comportadinhos”, que se julgam melhores que os outros e acham que, por força de sua virtude, eles têm méritos, direitos e até privilégios diante de Deus. Mas há também os que acham que sua sem-vergonhice descarada os torna mais honestos que as pessoas menos ousadas … O filósofo Kierkegaard fala do “publicano” que, lá no fundo do templo, reza assim: “Eu te agradeço, Senhor, porque sou um humilde pecador, não como aquele orgulhoso fariseu lá na frente … ”

A 2ª  leitura, usando outra terminologia, ensina a mesma coisa: somos justificados pela fé. Quem nos torna justos é Deus, não porque o merecemos, mas porque nos confiamos a ele na fé. Não é bom arvorar-se em juiz em causa própria, e muito menos em causa alheia … Quem se julga justo e perfeito, que lhe pode acrescentar Deus? É melhor deixar-se declarar justo e sem culpa por Deus, mediante o seu perdão, e amá-lo de coração. Cumprir a lei (judaica ou outra) é bom, mas não me livra de minha culpa. Só Deus pode abolir minha culpa, pois todo pecado atinge finalmente a ele, nosso sumo bem. Ele aboliu a culpa demonstrando quanto ele nos ama: permitiu que seu filho Jesus desse sua vida por nós. Este amor é maior que nossa culpa. Jesus o leva dentro de si. Jesus pode perdoar o mal que marcou nossa vida. Nós mesmos, não. Só nele nosso mal encontra perdão.

Quem assim, pela fé, se torna amigo de Deus, porque encontrou em Jesus o amor, não pode mais deixar de amar. Torna-se outra pessoa. A graça recebida de graça não pode tornar-se um pretexto para continuar pecando. A lição de hoje é esta: são amigos de Deus (“justos”) aqueles que reconhecem diante de Deus sua dívida de amor e dele recebem a remissão. Então, abrir-se-ão em gestos de gratidão, semelhantes ao gesto da pecadora.

 

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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