16º Domingo do Tempo comum

16/07/2013 09:50

16º Domingo do Tempo comum

Ouvir a palavra de Jesus

1ª Leitura: Gn 18,1-10ª
Sl 14
2ª Leitura: Cl 1,24-28
Evangelho: Lc 10,38-42

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-* 38 Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. 40 Marta estava ocupada com muitos afazeres. Aproximou-se e falou: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!» 41 O Senhor, porém, respondeu: «Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; 42 porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.»


* 38-42: Mais importante do que fazer as coisas, é fazê-las de modo novo. Para isso, é preciso ouvir a palavra de Jesus, que mostra o que fazer e como fazer.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

O único necessário

O ativismo não data deste século.  É uma doença que espreita a humanidade desde sempre. Jesus, às vezes um tanto irreverente para com seus anfitriões (cf. Lc l3,27ss), aproveita as intensas ocupações da Da. Marta, sua anfitriã, para falar do assunto (evangelho). Pois ela deseja que Da. Maria, imersa na escuta das palavras de Jesus, interrompa sua audiência e a ajude para preparar a comida. Mas, por que preparar comida, se não se sabe para quê? Se a gente não se abre para acolher a mensagem, para que acolher o mensageiro? Um bom anfitrião procura servir o melhor possível, mas se ele não faz tempo para se abastecer, que poderá oferecer? Um montão de coisas, mas não aquilo que serve. “Marta, Marta, tu te ocupas com muitas coisas; uma só, porém, é realmente indispensável”. Não diz o quê. Só diz que Maria escolheu a parte certa: escutar Jesus. Muito mais importante do que acolher Jesus numa casa bem arrumada, a uma mesa bem provida, é acolhê-lo, com suas palavras, no coração. Então saberemos preparar a mesa do modo certo.

Marta dá muita importância àquilo que ela está fazendo, e pouca àquilo que ela recebe de Jesus. A 1ª leitura mostra que, quando se está oferecendo hospitalidade, na realidade está recebendo. A hospitalidade que Abraão generosa e gratuitamente oferece a três homens, perto do carvalho de Mamré, transforma-se num receber; recebe a coisa que mais deseja: um filho de sua mulher legítima, Sara. Talvez por isso se diga que a hospitalidade é “receber” uma pessoa: o hóspede é um dom para nós.

A verdadeira hospitalidade não é preparar muitas coisas, mas acolher o dom que é a pessoa. Receber as pessoas com atenção, dar-lhes audiência, pode ser uma ocasião para receber a única coisa verdadeiramente necessária, a palavra de Deus: sua promessa (no caso de Abraão), seu ensinamento (no caso de Maria). Deus vem no ser humano. Paulo (2ª  leitura) sabe desta união de Deus e Cristo com o homem que lhes pertence. Seu sofrimento, ele o considera como a complementação, no seu próprio corpo, do sofrimento de Cristo. Ele leva em si o mistério escondido desde a eternidade, a realidade que só conhece quem dela participa, a esperança da glória, “Cristo em vós”. Na comunidade dos fiéis, especialmente, desses pagãos dos quais Paulo se tomou o apóstolo, está presente aquele que assume todo o sentido de nossa vida e da criação toda (Cl 1,15-20, cf. dom. pass.). Para que esses fiéis sejam levados à perfeição, Paulo oferece sua vida.

O ativismo, mesmo a serviço dos outros, corre o perigo de ser um serviço a si mesmo: auto-afirmação às custas do “objeto” de nossa caridade. A superação do ativismo consiste em ver o mistério de Deus nas pessoas, assim como Maria o enxergou em Jesus, certamente, o porta-voz de Deus, o portador das “palavras de vida eterna” (cf. Jo 6,68). Mas podemos também enxergar no homem o destinatário do carinho de Deus: é também uma maneira de ver Deus nele. A verdadeira contemplação não é uma fuga em pensamentos aéreos, mas aquele realismo superior que nos leva a ver Deus no homem e o homem em Deus. Esta contemplação é também o fundamento da verdadeira práxis da fé, que consiste, precisamente, em tratar o homem como filho e representante de Deus. Para isso, o centro de nossa preocupação não deve ser nossa atividade, mas a pessoa humana que nos é dada e que nós “recebemos” como um dom da parte de Deus.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

O “importante” e o necessário 

Um grande mal em nossa sociedade, e também na Igreja, é o ativismo, a falta de disposição para aprofundar o essencial, sob o pretexto de tarefas urgentes. Neste domingo, a 1ª leitura nos mostra a virtude da hospitalidade na figura de Abraão. Deus – que nos anjos se tomou seu hóspede – o recompensa com a promessa de um filho. O evangelho, porém, parece contradizer esta lição: Jesus dá a impressão de valorizar mais a presença passiva de Maria, que fica escutando-o, do que a preocupação de Marta em bem recebê-lo. Ou será que o jeito certo de recebê-lo é o de Maria: escutar sua palavra?

Jesus observa a Marta que ela anda ocupada e preocupada com muitas coisas, enquanto uma só é necessária. Essa observação não é uma recusa da hospitalidade, mas indica uma escala de valores: a melhor parte é a que Maria escolheu! O que esta faz é fundamental e indispensável: escutar. O resto (as correrias pastorais, as reuniões) é importante, mas deve ter fundamento no escutar. Jesus censura Marta não porque ela cuida da cozinha, mas porque quer tirar Maria do escutar, para fazê-la entrar no ritmo das suas próprias ocupações. Marta não conhecia a escala de valores de Jesus.

Paulo, na 2ª leitura, pode ser um exemplo. Ele passou pela “passividade” do sofrimento, assumindo no seu corpo aquilo que o sofrimento de Cristo deixou para ele. Foi desta identificação profunda com Cristo que ele tirou a força para seu surpreendente apostolado.

Gente ocupada é o que menos falta. Mas sabemos muito bem que toda essa ocupação não gira em torno daquilo que é fundamental. Dá até pena ver certas pessoas complicarem sua vida com mil coisas de que dizem que simplificam a vida. Ao lado delas encontramos o pobre, o lavrador, o índio, vivendo uma vida simples, mas com muito mais conteúdo e, sobretudo, com um coração sensível e solidário.

Importa acolher (a Deus, a Jesus, aos outros) em primeiro lugar no coração. Só então as demais ações terão sentido. Isso vale na vida pessoal e também na vida comunitária. Comunidades que giram exclusivamente em tomo de preocupações e reivindicações materiais acabam esvaziando-se, caem em brigas de personalismo e ambição. Mas comunidades que primeiro acolhem com carinho a palavra de Jesus num coração disposto saberão desenvolver os projetos certos para pôr a palavra de Jesus em prática.

“Buscai primeiro o Reino de Deus … ”

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

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