2º Domingo da Páscoa/Ano C - Jesus ressuscitado está vivo na comunidade

01/04/2013 17:51

 

Jesus ressuscitado está vivo na comunidade 

1ª Leitura: At 5,12-16
Sl 117
2ª Leitura: Ap 1,9-11ª.12-13.17-19
Evangelho: Jo 20,19-31

-* 19 Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: «A paz esteja com vocês.» 20 Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor.

21 Jesus disse de novo para eles: «A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.» 22 Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: «Recebam o Espírito Santo. 23 Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados.»

A comunidade é testemunha de Jesus ressuscitado -* 24 Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos disseram para ele: «Nós vimos o Senhor.» Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei.»

26 Uma semana depois, os discípulos estavam reunidos de novo. Dessa vez, Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: «A paz esteja com vocês.» 27 Depois disse a Tomé: «Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé.» 28 Tomé respondeu a Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!» 29 Jesus disse: «Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram sem ter visto.»

Para que João escreveu este evangelho? -* 30 Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. 31 Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome.


* 19-23: O medo impede o anúncio e o testemunho. Jesus liberta do medo, mostrando que o amor doado até à morte é sinal de vitória e alegria. Depois, convoca seus seguidores para a missão no meio do mundo, infunde neles o Espírito da vida nova e mostra-lhes o objetivo da missão: continuar a atividade dele, provocando o julgamento. De fato, a aceitação ou recusa do amor de Deus, trazido por Jesus, é o critério de discernimento que leva o homem a tomar consciência da sentença que cada um atrai para si próprio: sentença de libertação ou de condenação.

* 24-29: Tomé simboliza aqueles que não acreditam no testemunho da comunidade e exigem uma experiência particular para acreditar. Jesus, porém, se revela a Tomé dentro da comunidade. Todas as gerações do futuro acreditarão em Jesus vivo e ressuscitado através do testemunho da comunidade cristã.

* 30-31: O autor conclui o relato da vida de Jesus, chamando a atenção para o conteúdo e a finalidade do seu evangelho, que contém apenas alguns dos muitos sinais realizados por Jesus. E estes aqui foram narrados para despertar o compromisso da fé que leva a experimentar a vida trazida por Jesus.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

Páscoa: nova criação

O segundo domingo pascal, domingo das “vestes brancas”, acentua a nova existência do cristão regenerado pelo batismo (ou pela renovação do compromisso batismal). Na 1ª  leitura, início de uma série de leituras de At, esta novidade se manifesta na atuação da primeira comunidade cristã, suscitando admiração por causa de sua união e dos sinais que a acompanham. O novo povo de Deus cresce ligeiro. Com razão, o salmo responsorial comenta: a pedra rejeitada tornou-se pedra angular.

2ª  leitura é a visão inicial do Apocalipse. No “primeiro dia da semana”, dia da ressurreição e da assembléia cristã, ele vê o Cristo glorioso, o “primeiro e o último” (1,17), o “vivo que foi morto” (1,18) e que “tem as chaves da morte”, ou seja, tem a morte em seu poder (1,8). É a aparição do Cristo como Senhor do Universo. Os tempos são nele resumidos e recapitulados. No fim do livro, ele se manifestará como o renovador do Universo.

A novidade da situação pascal aparece também no legado que o Ressuscitado deixa para sua Igreja: a paz, como dom e como missão. A paz é dom escatológico por excelência, a renovação da harmonia com Deus, o perdão (evangelho). Esta nova realidade vem no Espírito, o Espírito do batismo, o Espírito de Cristo. Não é fruto do mero esforço nosso. É um dom dado a todos os verdadeiros fiéis, os que se confiam a Cristo e em Cristo se tornam homens novos; os que não são determinados por critérios biológicos e sociológicos, mas “nasceram de Deus” (Jo 1,12-13). De modo especial, a liturgia de hoje se dirige aos recém-nascidos filhos de Deus (canto da entrada, oração do dia).

A esta novidade podemos dedicar uma consideração comunitária e histórica, como é sugerido especialmente pelas duas primeiras leituras. A comunidade cristã aparece, no mundo, como um mundo novo, escatológico (cf. os sinais). As pessoas aderem a ela para “serem salvas” (na hora do Juízo). No Ap, Cristo aparece como o Senhor da História, o “Filho do Homem” daniélico (1,12). Este Senhor da História foi morto. Sua morte aconteceu por causa de sua total solidariedade com a história humana, na qual ele se integrou, numa práxis autêntica, conscientizadora e libertadora, procurando restituir ao homem seu Deus, e a Deus, sua Lei e seu povo. Sua prática em prol da vida o levou ao testemunho radical da morte (cf. Ap 1,4: a Testemunha Fiel). Ora, se este Senhor, que por nós e conosco enfrentou a rejeição e finalmente a morte, agora vive, então, a História, que ele assumiu, vive com ele. No Cristo pascal revive a História humana para uma vida nova, totalmente diferente, vencedora do antigo pecado, que em Cristo foi crucificado. Uma História que já pertence à não-História, ao fim dos tempos. Pois “ele” é o primeiro dos homens, realizando a vocação original da humanidade, ou seja, a completa filiação divina; mas nisso ele é também o último, a plenitude.

Essa novidade da História humana deve transparecer na comunidade dos renovados pelo batismo. A renovação pascal não é apenas uma revigoração interior, nem apenas um retomar de algumas boas práticas e um provisório desistir de alguns vícios. Isso seriam apenas “variações sobre um tema antigo”, como se diz na música. Temos de compor uma peça nova, tendo uma estrutura nova. E, mesmo se esta não for a melhor, o fato de ser nova e melhor que a anterior será um sinal de que escolhemos o lado daquele em quem nossa história antiga morreu, para ressuscitar na força de Deus.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

A Páscoa de cada semana

O cristão começa a semana com cara de domingo e não de segunda-feira. Pois, como diz o próprio nome, a segunda-feira é o segundo dia da semana. O primeiro é o domingo, por diversas razões.

Na liturgia do 2° domingo pascal, o autor do Apocalipse faz questão de dizer que ele teve a sua visão no “primeiro dia da semana”, no domingo (2ª  leitura). É o dia da ressurreição: o que ele vê, na sua visão, é “o morto que está vivo”, Cristo ressuscitado. É o dia da celebração: ele vê uma liturgia celeste em honra de Jesus, o Cordeiro pascal imolado por nós.

Também o evangelho de hoje nos fala, por duas vezes, do primeiro dia da semana. A primeira cena deste evangelho situa-se no próprio dia da Páscoa, quando Jesus aparece aos discípulos, mostrando-se ressuscitado e vivo, para derramar sobre eles o Espírito Santo, que lhes dá o poder de tirar o pecado do mundo, como ele mesmo tinha feito. A segunda cena ocorre “oito dias depois” (portanto, outra vez no primeiro dia da semana), quando Jesus aparece para se mostrar a Tomé e confirmar a sua fé.

O primeiro dia da semana é o dia de Jesus e de Deus, domingo, dies Domini, dia do Senhor. Lembra o primeiro dia da criação, quando Deus criou a luz. A ressurreição de Jesus é novo primeiro dia da criação, nova luz que surge sobre o mundo. E cada domingo é, para o cristão, a comemoração dessa luz pascal e dessa nova criação. Nós mesmos somos criaturas novas, chamadas à vida na luz – a luz de Cristo morto e ressuscitado.

O domingo é páscoa semanal, dia da comunidade, lembrete da nova criação que nós somos em Cristo. Não só pessoalmente, mas como comunidade, chamada a dar um novo tom ao mundo. Os habitantes de Jerusalém perceberam essa novidade. Muitos aderiram à comunidade e todo o povo a elogiava, diz a 1ª  leitura de hoje. Também hoje, o mundo deve perceber essa novidade no novo rumo que os cristãos imprimem à história, transformando-a de história de opressão em história de libertação. O domingo, com seu descanso físico, sua alegria espiritual e sua comunhão na celebração, deve alimentar em nós esta existência pascal nova e formadora.

Israel celebra o dia santo no sábado, dia do descanso de Deus depois de completada a criação. É um símbolo religioso muito profundo. O próprio Jesus observava normalmente o sábado, tomando, porém, a liberdade de fazer curas ou permitir colher espigas, porque a que Deus criou deve também ser conservada no dia de sábado… Os cristãos escolheram como dia santo o dia depois do sábado, o dia da Ressurreição, da restauração da vida, pensando não tanto na criação acabada, mas na novidade de vida inaugurada por Jesus. Por isso, os Pais da Igreja chamaram este dia de “oitavo dia”: ele está fora da seqüência dos sete dias da semana, é de outro nível. Simboliza o tempo novo e definitivo. Será que isso se reconhece na maneira em que celebramos o domingo?

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

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