21º Domingo do Tempo Comum/Ano C

19/08/2013 19:37

A salvação é para todos

A salvação é para todos

1ª Leitura: Is 66,18-21
Sl 116
2ª Leitura: Hb 12,5-7.11-13
Evangelho: Lc 13, 22-30

-* 22 Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: «Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?» Jesus respondeu: 24 «Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. 25 Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: ‘Senhor, abre a porta para nós!’ E ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês’. 26 E vocês começarão a dizer: ‘Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças!’ 27 Mas ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!’ 28 Então haverá aí choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão, Isaac e Jacó junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vocês jogados fora. 29 Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30 Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.»


* 22-30: Jesus não responde diretamente à pergunta. A salvação é universal, está aberta para todos, e não só para aqueles que conhecem a Jesus. A condição é entrar pela porta estreita, isto é, escolher o caminho de vida que cria a nova história.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

Vocação Universal à Salvação

Embora homem da cidade, Lucas gosta de apresentar Jesus atravessando os lugarejos do interior. Para a mensagem de hoje, esta representação é significativa: a todos
deve ser apresentado o convite do Reino (evangelho). De fato, à preocupação apocalíptica de saber o número dos eleitos e as chances que a gente tem (cf. o vestibular), Jesus responde: o número dos eleitos não importa;importa a conversão, esforçar-se para entrar e não ficar gracejando, dando um ar de interessado, sem nada empreender; pois vem o momento quando o dono da casa se levanta e fecha a porta; então, não reconhecerá os que estiverem com ele nas praças, mas só “de corpo presente”, sem dar audiência à sua palavra. Ora, a festa em si, ela está aberta a todos os que quiserem esforçar-se.

A crítica se dirige àqueles em cujas praças Jesus ensinou (13, 26): deixaram-no falar, mas não obedeceram a seu apelo de conversão, talvez porque estavam seguros de pertencer ao número dos eleitos. Eles são os primeiros, que viram últimos, enquanto os últimos – os desprezíveis pagãos -, quando se convertem, se tornam os primeiros, para sentar com Abrão, Isaac e Jacó (que provocação para os judeus!) na mesa do banquete escatológico, vindos de todos os cantos do mundo.

Esta mensagem não perdeu sua atualidade. O que Jesus recusa é o calculismo e a falsa segurança a respeito da eleição. A eleição não responde a nenhum critério humano. É a graça de Deus que nos chama a sua presença. Diante deste chamado, todos, seja quem for, devem converter-se, pois ninguém é digno da santidade de Deus, nem de seu grande amor. Ninguém se pode considerar dispensado de lhe prestar ouvido e de transformar sua vida conforme a exigência de sua palavra. Não existe um número determinado de eleitos ( é bom repeti-lo, com vistas a certas seitas por aqui). O que existe é um chamado universal e permanente à conversão. E este vale também para os que já vêm rotulados como bons cristãos. Pois a fé nunca é conquistada para sempre. É como o maná do deserto: se a gente o quer guardar até a manhã seguinte, apodrece (cf. Ex 16,20)! Quem não retorna diariamente o trabalho de responder à Palavra com uma autêntica conversão, gritará em vão: “Senhor, eu participei de retiros e assisti a pregações, palestras e cursos em teu nome ( e também comi e bebi nas suas festinhas paroquiais…)”… E também hoje os últimos poderão ser os primeiros: os que não vão à igreja, porque não têm roupa decente, porque devem trabalhar, porque têm filhos demais, ou, simplesmente, porque se sentem estranhos entre tanta gente de bem… Para chamar a eles é que Jesus não ficou nos grandes centros, mas entrou nos bairros e vilarejos.

A 2ª leitura entra em choque com a mentalidade “esclarecida”: Deus ” castiga” para nos educar. “Pois o Senhor educa a quem ele ama e castiga todo que acolhe como filho” (Hb 12,6; cf Pr 3,11-12). Achamos horrível: Deus faz sofrer? Não. Educa-nos, como um bom pai educa seus filho, corrigindo-o. Esta é a resposta dos antigos para o escândalo do sofrimento; e do nosso povo simples também. Será que eles se enganam? No fundo, pouco lhes interessa donde vem o sofrimento. Querem saber o que fazer com ele! Que o sofrimento existe, é inegável. Muitas vezes, é causado pelos homens, mas nem sempre. A quem sofre importa menos explicar as causas do que dar um sentido ao sofrer. O sofrimento pode ter o valor de educação para uma vida que agrade a Deus, já que este, em Cristo, encarou o sofrimento. Não é errada tal valorização do sofrimento, já que não se consegue escapar dele, nem mesmo no admirável mundo novo da era tecnológica. Como cristãos, devemos aprender a viver uma vida nova, diferente da vigente. Isso não é possível sem sofrer. Porém, este sofrimento não deprime, não torna fatalista, mas faz crescer a força para produzir frutos de paz e justiça: “Levantai pois as mãos fatigadas e os joelhos trêmulos; dirigi vossos passos pelo caminho reto!” (12,12)

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Cristianismo instalado ou aberto?

São poucos os que vão ser salvos? Muitos cristãos vivem com esta pergunta angustiante, inculcada às vezes por pregadores insensatos. Segundo Jesus, no Evangelho, a
salvação é para todos, vindos de todos os lados, dos quatro ventos, de perto e de longe. Só não é para aqueles que se fecham na auto-suficiência nos seus presumidos privilégios. A 1ª leitura lembra que Deus não apenas quis salvar o povo de Israel do exílio babilônico, como também o encarregou de abrir o Templo e a Aliança a todas
as nações.

Quando Deus concede um privilégio, como foi a salvação de Israel do cativeiro babilônico, este privilégio se torna responsabilidade para com os outros. Deus rejeita a auto-suficiência.

Existem muitos cristãos instalados, que se sentem seguros fazendo formalmente tudo o que lhes foi prescrito, mas não assumem com o coração aquilo que Jesus deseja que façam, sobretudo o incansável amor ao próximo. Eles ficarão de fora, se não se converterem, enquanto outros, considerados pagãos, vão encontrar lugar no Reino. Aqueles que só servem a Deus com os lábios e não com o coração e de verdade, o Senhor não os conhecerá!

Na América Latina, hoje, os que sempre foram os donos da Igreja estão se enterrando no materialismo, e os pobres – há séculos marginalizados da vida eclesial ou relegados a uma posição inferior – estão entrando nas comunidades e ocupando o lugar dos antigos donos. As catedrais dos centros se esvaziam e as capelas da periferia se enchem. Esvazia-se também o comportamento tradicional, enquanto se abre espaço para um novo modo de ser cristão, mais jovem e mais simples, mais participativo e menos fechado.

Contudo, esta chegada de um novo tipo de cristãos, aparentemente “vindo de longe”, não significa que se esteja facilitando o ser cristão. Antes pelo contrário. Exige desinstalação. Exige busca permanente daquilo que é realmente ser cristão: não apegar-se a fórmulas farisaicas, mas entregar-se a uma vida de doação e de amor, que sempre nos desinstala.

Então, a questão não é se poucos ou muitos vão ser salvos. A questão é se estamos dispostos a entrar pela “porta estreita” da desinstalação e do compromisso com os que sempre foram relegados. A questão é se abrirmos amplamente a porta de nosso coração, para que a porta estreita se torne ampla para nós também. Deus não fechou o número. A nós cabe nos incluirmos nele….

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

 

 

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