5º Domingo do Tempo Comum -"Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostar-me"

06/02/2013 07:49

 

5º Domingo do Tempo Comum

 

"Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostar-me" Salmo 137.
 
10 de fevereiro de 2013.
Ano: C / Cor: Verde
 
 
PRIMEIRA LEITURA - Is 6, 1-2a.3-8
 
Estamos diante de um texto que descreve a vocação do grande profeta Isaías. Isto acontece no ano de 739 a.C., antes da morte do rei Ozias. Seu chamado a ser profeta do Altíssimo aconteceu numa liturgia no Templo de Jerusalém, quando se celebrava a realeza universal de Deus cantando o Salmo 99. O profeta posteriormente tenta no texto de hoje escrever essa sua profunda experiência interior.
 
a) O que o profeta sente a respeito de Deus?
 
1. Deus é o Senhor absoluto da história, ele reina sobre o universo inteiro. Seu trono majestoso e elevado é o céu, mas as franjas das suas vestes invadem o santuário do Templo. Isaías não vê a face de Deus, só a barra de seu manto, mas com isso o profeta já sente a plenitude de Deus e percebe que sua realeza ultrapassa a imensidão do infinito. O céu é apenas o trono de Deus e o Templo, o escabelo de seus pés. Isaías sente que a terra inteira está cheia da glória do Senhor.
 
2. Deus é Santíssimo - os serafins proclamavam esta profunda santidade de Deus, dizendo: "santo, santo, santo". Em que consiste esta santidade? "Consiste em sua coerência contínua na história ao lado do seu povo, libertando-o e salvando-o", com justiça e retidão. Esses sinais de libertação constituem, para aqueles que têm fé, a glória de Deus sobre a terra (v. 3b).
 
b) O que o profeta sente sobre si mesmo?
 
Diante de tamanha santidade e majestade, Isaías se sente pequeno, pecador e perdido (v. 5). Mas Deus cuida de seus profetas e os capacita para a missão. Aqui vemos Deus, através do seu anjo, purificar o profeta, perdoar-lhe o pecado e enviá-lo em missão para ele transmitir ao povo a experiência que ele acaba de viver.
 
Interessante que foi através de uma impressionante liturgia que o profeta se sente tocado e é capaz de se comprometer dizendo: "Aqui estou, envia-me". Nossas liturgias são capazes de suscitar profetas?
 
SEGUNDA LEITURA - 1Cor 15,1-11
 
Vamos ler do 5º ao 8º Domingo do Tempo Comum o capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios.
 
Entre tantos problemas e dúvidas da comunidade de Corinto, um era sobre a ressurreição e é dela que trata o capítulo 15. Paulo afirma que o que ele transmitiu aos coríntios foi o que ele recebeu. Quais são os itens da fé recebida e transmitida? Ele enumera quatro artigos de fé dos apóstolos:
 
a) Cristo morreu por nossos pecados, quer dizer em nosso favor, em nosso lugar. Isto está conforme as Escrituras tinham anunciado.
 
b) Ele foi sepultado, quer dizer, o sepulcro constata a morte de Jesus e o fim de sua vida terrena.
 
c) Ele ressuscitou ao 3º dia. Isto está conforme Jesus tinha anunciado.
 
d) Ele apareceu a Cefas (Pedro) sozinho e depois aos 12. As aparições querem inaugurar uma nova presença de Cristo no meio de nós.
 
Paulo continua o texto dizendo que mais tarde Cristo apareceu a mais de 500 irmãos de uma vez; depois apareceu a Tiago e depois aos apóstolos todos juntos. Por último, apareceu também a ele, "como a um abortivo". Como a Bíblia de Jerusalém explica, esta expressão alude ao caráter anormal, violento, "cirúrgico" da vocação de Paulo. É bom observar no texto a preocupação de que a iniciativa é sempre de Deus, a fé viva como resposta da comunidade primitiva e o impulso a transmitir a experiência vivida (conferir também a 1ª leitura). O que transmitimos hoje como conteúdo básico da nossa fé?
 
EVANGELHO - Lc 5,1-11
 
No evangelho de hoje, Lucas não está preocupado com a crônica dos acontecimentos; sua preocupação é mais teológica do que histórica. Ele condensa aqui vários fatos e mistura sua preocupação fundamental de narrar a vocação de Pedro com a vocação de outros discípulos. Com a pesca milagrosa ele quer mostrar que a missão dos discípulos é um prolongamento da missão de Jesus. Apresenta também duas condições fundamentais para ser discípulo e missionário. Dar atenção especial à Palavra do Mestre e deixar tudo.
 
a) A situação do povo e a posição de Jesus
 
Lucas, como Marcos, vê a região do lago de Genezaré (lago de Tiberíades ou mar da Galileia) como o lugar da atividade libertadora de Jesus. O texto mostra a multidão faminta da Palavra de Deus. Os pescadores com suas redes vazias representam a situação do povo, depois ele sobe na barca para mostrar que compartilha com a frustração do trabalhador, que ganha pouco e às vezes nada. Da barca ele pode encarar o povo de frente com suas faces abatidas e angústias transparentes. Ele se assenta. É a posição de quem ensina. O texto não diz o que Jesus ensinava, mas certamente ele profere palavras de libertação e solidariedade.
 
b) Simão acredita na palavra do Mestre
 
Jesus, não era pescador, entretanto ele dá ordens a um mestre em pescaria. Simão, delicadamente, (coisa rara em Pedro) lembra a Jesus que ele e seus companheiros trabalharam a noite inteira. Mas Simão reconhece Jesus como Mestre e Senhor da Palavra da vida (cf. Jo 6,68). Eis a frase importante de Simão Pedro: "Mas, em atenção à tua Palavra, vou lançar as redes". Diante de Jesus somos todos discípulos, aprendizes. Sua palavra é a palavra da vida, capaz de transformar situações carentes em conforto e alegria. Foi o que aconteceu. Jesus mandou lançar as redes e pescaram como nunca (vv. 4-8).
 
c) Abandono e seguimento
 
Simão reage como Isaías. Reconhece-se pecador diante da santidade do seu Senhor. Senhor é o título que Jesus recebe depois da ressurreição. A pesca quer simbolizar, na verdade, a grande vitória de Cristo sobre a morte e o resultado da pregação apostólica. A abundância de peixes aponta para a quantidade de futuros convertidos. Como Isaías, Pedro também é acolhido e transformado em mensageiro da Palavra, em pescador de homens. Diante de tudo isso, Pedro e seus companheiros deixaram tudo e seguiram a Jesus.
 
Que valor estamos dando à Palavra de Deus? Estamos partilhando das angústias e sofrimentos do povo?
 
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga, MG. Estudou teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, entre os anos de 1969 a 1972. Entre 1972 e 1975 especializou-se em Sagradas Escrituras no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e realizou mestrado em Exegese Bíblica e línguas orientais no mesmo instituto.

 

 
Da redação do Portal Ecclesia.
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