9º Domingo do Tempo Comum/Ano C A fé não tem fronteiras

28/05/2013 09:38

9º Domingo do Tempo Comum/Ano C

A fé não tem fronteiras

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1ª Leitura: 1Rs 8,41-43
Sl 116
2ª Leitura: Gl 1,1-2.6-10
Evangelho: Lc 7,1-10

 -* 1 Depois que terminou de falar todas essas palavras ao povo que o escutava, Jesus entrou na cidade de Cafarnaum. 2 Havia aí um oficial romano que tinha um empregado, a quem estimava muito. O empregado estava doente, a ponto de morrer. 3 O oficial ouviu falar de Jesus, e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedir a Jesus que fosse salvar o empregado. 4 Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: «O oficial merece que lhe faças esse favor, 5 porque ele estima o nosso povo, e até construiu uma sinagoga para nós.» 6 Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizer a Jesus: «Senhor, não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa; 7 nem sequer me atrevi a ir pessoalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e o meu empregado ficará curado. 8 Pois eu também estou sob a autoridade de oficiais superiores, e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: Vá, e ele vai; e a outro: Venha, e ele vem; e ao meu empregado: Faça isso, e ele o faz.» 9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia, e disse: «Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.» 10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial, e encontraram o empregado em perfeita saúde.


* 7,1-10: O oficial era «temente a Deus», isto é, simpatizante do judaísmo, embora não pertencesse oficialmente aos seus quadros religiosos. Muitas vezes pode-se encontrar mais fé em pessoas que não pertencem a uma instituição religiosa do que entre aquelas que dela fazem parte.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

A fé do pagão e a cura de seu empregado

A fé do centurião de Cafarnaum é emocionante (evangelho). É tenente do exército romano, “pagão”, mas estima muito o judaísmo. Sendo Jesus judeu, o centurião se julga indigno de fazer-lhe um pedido direto e manda os anciãos da comunidade judaica (afinal, ajudara-os a construir a sinagoga). Estes insistem com Jesus, e ele vai com eles. Ainda no caminho, o centurião lhes corre ao encontro: “Não, Senhor, não entre em minha casa. Eu não sou digno. Mas fale só uma palavra, que meu servo já fica bom. Pois eu sou militar, eu sei o que uma palavra é capaz de fazer quando a gente tem poder de mandar!” E Jesus cura o servo, à distância.

História emocionante, porque mostra a grande fé do homem e também sua expressão tão espontânea, nascida de sua vida profissional. “Eu sei o que é mandar!” Emocionante ainda é a simplicidade com que, primeiro, procura intermediários e, depois, corre ao encontro de Jesus. Para o evangelista dos “pagãos”, Lucas, porém, a maior emoção se encontra na palavra de Jesus: “Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” (v. 9).

O universalismo transparece na 1ª leitura, tirada da bela oração de Salomão por ocasião da Dedicação do Templo. Salomão pede a Deus que também os que vêm de longe encontrem ouvido quando rogarem no templo de Jerusalém. Mas há certa ambiguidade. Pode ser uma maneira de promover o templo que ele, Salomão, construiu inclusive, para atrair interesses estrangeiros, colocou estátuas de divindades estrangeiras em Jerusalém (1Rs 11,7-8). Um universalismo que cheira a propaganda barata. Universalismo para promover as próprias instituições. Nesta atitude, a gente se mistura um pouco com Deus. O verdadeiro universalismo faz abstração do ganho próprio, mas deseja que cada um encontre Deus no caminho que lhe é próprio. No encontro de Jesus com o centurião romano, Jesus faz abstração das instituições judaicas.

São Paulo, nas suas viagens, evangelizara uma região bem “subdesenvolvida”, de pouca cultura, lá no interior da Turquia: a Galácia (2ª leitura). Eram bárbaros, que mal falavam um pouco de grego. Mas, uma vez que Paulo abriu o caminho, outros judeus, valendo-se do nome de Jesus de Nazaré, começaram a pregar para os gálatas, ávidos por qualquer novidade do mundo das grandes culturas e religiões. Estes novos missionários consideravam o cristianismo como sendo apenas uma variante do judaísmo. Segundo eles, Jesus era um grande mestre, mas não tinha iniciado algo realmente novo; o judaísmo permanecia o único caminho seguro de salvação. Quando fica sabendo disso, Paulo inflama-se e escreve uma carta severa para explicar aos gálatas que Jesus pôs fim ao judaísmo. O judaísmo tinha crucificado Jesus e, com ele, suas próprias prerrogativas e privilégios. O judaísmo servia para os judeus (Paulo o observava ainda), mas não devia ser imposto aos não-judeus: ou Jesus salva o homem, ou o judaísmo, mas não ambos ao mesmo tempo; se a Lei salva, Jesus morreu em vão (cf. Gl 2,21).

As leituras de hoje evocam, portanto, um problema bastante crucial entre nós também. Por um lado, temos pessoas que acham que fora do catolicismo romano (de preferência na sua forma mais tradicional) não existe salvação. Por outro, o povão quer garantir sua salvação por uma combinação de várias crenças (o sincretismo). Nenhuma das duas maneiras entende o universalismo da salvação de Deus. Deus salva a quem o procura de modo sincero e autêntico, no caminho que lhe é próprio, seja esse caminho budista, animista, espírita, ou seja lá o que for. Mas Deus se manifestou também para ser conhecido melhor em Jesus Cristo, de maneira única. Quem tem a felicidade de conhecer Jesus Cristo deve, por isso, ajudar a todos a crescerem lá onde Deus os fez brotar. Se assim eles descobrirem que é Jesus quem os coloca em contato com o Deus que buscam, tanto melhor. Mas não desejemos um monopólio para as nossas instituições religiosas. Isso é contraproducente, como mostra a “implantação” da Igreja no Brasil, que talvez não tenha sido uma verdadeira evangelização.

 

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

A fé do pagão

Falamos hoje muito em ecumenismo, diálogo inter-religioso. Mesmo seguros em nossa fé, sentimos que a nossa religião não deve monopolizar tudo o que é valioso.

Na 1ª leitura de hoje, o rei Salomão pede a Deus que ele atenda também as preces dos não-judeus que forem rezar no templo de Jerusalém. No evangelho, Jesus louva a fé de um pagão, militar estrangeiro, que lhe pede a cura de seu empregado com tamanha fé como Jesus “nem mesmo em Israel” tinha encontrado.

Os que moram mais perto da Igreja não são necessariamente os que têm mais fé. Muitos cristãos tratam a religião cristã como tradição de família ou forma de aparecer; mas no fundo do seu coração não acreditam, não dão crédito a Deus. Dirigem-se por seu próprio nariz, sem deixar Deus se intrometer nos seus negócios … Decidem por conta própria o que lhes convém, Deus e religião à parte. E mesmo quando estão em apuros, só rezam por interesse próprio. Diferente é a fé do centurião pagão, que usa a magnífica imagem tirada da vida militar para reconhecer o poder de Jesus e lhe pedir pela vida de seu empregado. Este pagão reconheceu em Jesus a presença do “Deus da vida”.

Será que também hoje se encontra tamanha fé entre os que não pertencem oficialmente à Igreja, mas talvez no coração estão mais próximos de Jesus do que nós? Não apenas os pagãos que ainda não ouviram o evangelho – uns poucos índios no coração da selva -, mas os pagãos de nossas selvas de pedra, desta nossa sociedade, que abafou o evangelho a tal ponto que, apesar dos muitos templos, ele já não chega ao ouvido das pessoas. Tal que se diz ateu, talvez porque nunca encontrou verdadeiro cristianismo; ou tal que vive dissoluto, por ter sido educado assim; ou então, tal que busca Deus com o coração irrequieto de Santo Agostinho … todos esses não receberão maior elogio de Deus do que os cristãos acomodados?

Tomar consciência disso terá um duplo efeito salvífico para os próprios cristãos: descobrirão a riqueza dos outros, o modo como Deus se manifesta em todo o universo humano; e darão mais valor ao modo único no qual ele se dá a conhecer em Jesus Cristo.

 

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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