Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor / Ano C

18/03/2013 09:30

 

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor / Ano C

 

 

"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?" (Salmo 21).
 
24 de março de 2013.
Ano: C / Cor: Vermelho
 
PRIMEIRA LEITURA - Is 50,4-7 
 
Uma vez mais a liturgia nos apresenta um dos quatro cantos do servo sofredor. Desta vez é o terceiro canto. Quem é este personagem misterioso? Poderia ser o povo de Israel, uma pessoa anônima, talvez, até mesmo o profeta, ou quem sabe, simbolizaria o Israel messiânico, o Messias futuro! O certo é que o Primeiro Testamento vê claramente em Jesus a realização perfeita dos quatro cantos do Servo de Javé. Jesus é o Servo humilhado pelos homens e exaltado por Deus. A missão do Servo é “mostrar à custa das ofensas recebidas que o amor de Jesus é perene. Os exilados não precisam lamentar o aparente abandono de Javé, pois seu amor é eterno”. Qual a atitude de Javé para com o Servo? Dá-lhe a capacidade de falar para levar o conforto ao povo. Abre-lhe os ouvidos para que aprendendo como discípulo possa transmitir ao povo os ensinamentos de Deus. O Servo é um discípulo dócil e aplicado. Javé por fim lhe dá proteção. Quer dizer Javé prepara seu povo para a missão no meio do seu povo. Qual é a atitude do Servo fiel à missão recebida? É uma atitude de impressionante humildade, resignação e entrega total. Ele não oferece resistência àqueles que o torturam (dá as costas); submete-se a uma profunda humilhação, deixando-se arrancar a barba, entregando seu rosto aos ultrajes e cuspidas. A ignomínia não derruba o Servo. Ele conserva o seu rosto duro, quer dizer, para manter sua função de fiel discípulo e cumpridor de sua missão de Servo, ele não leva em conta as numerosas ofensas recebidas. Ele tem certeza que o Senhor Deus lhe presta auxílio. Ele tem certeza que não sairá frustrado. Israel é convidado a ter esta esperança e certeza do Servo. Diante de tudo o que aconteceu com Jesus, Servo de Javé e Nosso Senhor, nossa certeza e esperança são inabaláveis. São estes os nossos sentimentos de cristão diante do sofrimento? 
 
SEGUNDA LEITURA - Fl 2, 6-11 
 
Este hino sintetiza a história de Jesus: o mistério de sua encarnação, morte e glorificação. Vemos primeiro um movimento descendente (vv. 6-8). É o gesto radical do Filho, seu mergulho mais profundo nas águas sujas da miséria humana. Jesus assumiu a condição dos mais excluídos: Deixou sua condição divina, seu modo glorioso de vida (v. 6) e, praticamente, tornou-se um nada (aniquilou-se a si mesmo). É o mistério da encarnação. Por solidariedade com os mais excluídos assumiu a condição de Servo, homem a serviço, homem sofredor (v. 7). O v. 8 refere-se à sua humildade e humilhação, à sua obediência perseverante, uma obediência até à morte e morte violenta, injusta, assassina. Jesus aceitou ser rejeitado, um excluído, o último da sociedade. Os que o excluíram e assassinaram continuam criminosos até hoje representados pelos que se consideram grandes, donos do poder, da política, donos do mundo. 
 
Em segundo lugar vemos um movimento ascendente. É a ação do Pai que glorifica o Filho (vv. 9-11). É uma alusão ao mistério de sua ressurreição e ascensão. Em relação à primeira parte, o texto lembra a síntese do mistério cristão anunciado por Jesus: “Quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado”. O Pai exalta o Filho, glorifica-o, dá-lhe o Nome que está acima de todo o nome, restitui-lhe a condição divina anterior, glorificando também sua humanidade (v. 9). A ele todos, absolutamente todos, devem a honra e a adoração; os que estão nas alturas celestes, os que estão sobre a terra e os que estão debaixo da terra. Todos os seres criados estão submetidos ao nome de Jesus (v. 10). Deus Pai confere a Jesus o nome de “Senhor”. É sua identidade de ressuscitado. Jesus, glorificado pelo Pai, tornou-se Senhor de tudo e de todos. Por isso toda a língua, quer dizer, todo mundo deve confessar o senhorio de Jesus para a glória de Deus Pai (v. 11). 
 
Com este hino, Paulo nos convida a termos os mesmos sentimentos de Jesus (v. 5): desapego, humildade, obediência e entrega total a serviço dos excluídos. “Quem se humilha será exaltado”. Se Deus nos chamasse hoje, estaríamos em condição de sermos exaltados? 
 
EVANGELHO - Lc 22,14-23,56 
 
Vamos seguir o itinerário de Jesus no relato da paixão. 
 
Em Jesus se realizará a profecia do Servo sofredor. Ali acontecerá o aniquilamento total do Filho de Deus (Fl 2,6-8). O alto do calvário é o ponto mais baixo que Jesus alcançou no seu mergulho na miséria humana. É o seu encontro solidário com os mais excluídos. Depois do calvário começa o movimento ascendente (Fl 2,8-11) daquele que desceu para resgatar os excluídos. Seu êxodo termina na casa do Pai como Senhor glorificado. 
 
A paixão começa com a Eucaristia (vv. 14ss), na qual Jesus se doa, antecipadamente, no pão e no vinho consagrados. Ali, Jesus anuncia a traição de Judas e ensina que o maior é aquele que serve, que faz o que Jesus está fazendo, que é capaz de doar a própria vida (Fl 2,7-8). Jesus anuncia a traição de Pedro (vv. 31ss) apesar de ter rezado tanto por ele e apesar de sua boa vontade. Jesus tem consciência de sua morte na cruz e diz simbolicamente que a vida cristã é uma luta (vv. 35ss). Em seguida Jesus se dirige para o monte das Oliveiras e se põe a rezar, mas está pronto a realizar a vontade do Pai. Sua oração foi intensa. Jesus estava angustiado. Duas vezes adverte os discípulos a rezarem para não caírem em tentação (vv. 39ss). Os vv. 47-53 narram a traição de Judas e a prisão de Jesus. Em seguida temos o episódio da negação de Pedro na casa do Sumo Sacerdote (vv. 54ss). Jesus começa a realizar nos pormenores a profecia do Servo Sofredor. Pela manhã, Jesus foi levado ao tribunal judeu (= Sinédrio), onde ele se revela o Filho de Deus (vv. 63-71). Depois é conduzido a Pilatos, quando o enchem de acusações e em seguida a Herodes, mas ali permanece em silêncio (23,1-12). Então ele é re-enviado a Pilatos que o declara inocente, mas os judeus pedem a sua morte e Pilatos acaba cedendo (23,13-25). Jesus leva sua cruz ao calvário com a ajuda de Nicodemos. Depois Jesus é crucificado e, antes de morrer, perdoa seus algozes e promete o paraíso a um dos dois criminosos que foram crucificados com ele (vv. 36ss). Às 15 horas Jesus morre para a salvação de todos. Representando os povos pagãos um oficial romano reconhece que Jesus era justo. Por fim Jesus é sepultado por José de Arimateia. Eis o drama do Servo Sofredor e Redentor dos homens.
 
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Colunista do Portal Ecclesia.
Bispo de Caratinga (MG). Estudou teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Especializado em Sagradas Escrituras e mestre em exegese bíblica e línguas orientais pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
 

 

 

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