Módulo II – Revelação, Bíblia e Tradição Parte I

10/02/2013 14:55

 

Módulo II – Parte I

Revelação, Bíblia e Tradição

Início: 10/02/2013

Termino: 17/02/2013

 

 

1. A Revelação Divina:

 

Revelar é tirar o véu que cobre o rosto: é como se Deus tivesse o Seu rosto encoberto e o mostrasse aos poucos ao Homem: pela Revelação, Deus sai ao encontro dos homens, chama-os e convida-os a participar da Sua natureza divina, dando uma resposta definitiva às interrogações do homem. Deus manifesta-Se por dois modos: a Revelação Natural ou Indireta (alcançada pelo raciocínio), através da contemplação da criação; e a Revelação Sobrenatural ou Direta, realizada através dos profetas e sobretudo da Palavra Encarnada, Jesus Cristo. A Revelação pode ainda ser pública (consta de duas partes: a Antiga e a Nova Aliança; é objeto de fé) ou privada (pode-se acreditar nelas ou não; por exemplo: Fátima, Lourdes).

 

2. As etapas e características da Revelação: breve abordagem

 

2.1 – Etapas da Revelação:

O projeto de Deus para a humanidade pode ser sintetizado na Aliança, projeto de amizade para fazer do homem criaturas novas e um só povo. A Aliança foi-se desenrolando ao longo da História da Salvação, divide-se na Antiga Aliança e na Nova Aliança. Como fases da Antiga Aliança temos: 1) A Revelação primitiva (aos nossos primeiros pais, aos quais promete um Redentor); 2) Aliança ratificada em Noé, depois do dilúvio; 3) Na História dos Patriarcas, Abraão, Isaac e Jacó, Deus começa a constituir o Seu Povo e promete-lhes uma Terra; 4) Com Moisés, dá-lhes os 10 Mandamentos e constitui o Seu povo, libertando-o da escravidão; 5) Os profetas lembravam constantemente que se voltassem para o verdadeiro Deus quando se desviavam; 6) Com Jesus Cristo é inaugurada a Nova Aliança, Ele é a Revelação definitiva, com Ele surge um novo povo nascido do Espírito; 7) A Igreja, conduzida pelo Espírito, guia o povo de Deus ao longo da História; 8) A Aliança e a Revelação, só alcançarão a sua plenitude na eternidade, na Casa do Pai, quando Deus for tudo e em todos.

 

2.2 – Características da Revelação:

Se Deus não tivesse se revelado, pouco saberíamos d’Ele, do que Ele pensa de Si, de nós, da humanidade… Mas, quais são algumas das características da revelação cristã? 1) É Deus que tem a iniciativa, é Ele que chama; 2) A Revelação é progressiva ao longo da História, revela-se gradualmente; 3) A revelação dá-se pela palavra, que cria e interpreta a História, sendo Jesus Cristo a Palavra definitiva do Pai; 4) É comunitária, social e eclesial: destina-se às pessoas como membros de uma comunidade, em comunhão; 5) É conhecimento, mensagem, testemunho: Deus dá aos homens testemunho de Si próprio, da Sua mensagem; 6) É Encontro entre o Homem e Deus.

 

3. As fontes da Revelação Sobrenatural: Tradição e Bíblia

 

3.1 – A Sagrada Tradição:

 I – O significado humano da tradição: Tradição significa transmissão; Tradição é diferente de tradição com minúscula; esta refere-se a costumes, modos de viver de um povo, que recebe dos antepassados e podem ser abandonados quando inúteis. A realização e liberdade da pessoa é condicionada pela relação do eu com o tu: a partilha enriquece e transforma; o Homem pode recusar ou aceitar uma tradição: também se aplica à Tradição cristã.

 

II – O acontecimento Cristo-Igreja, fundamento da Tradição cristã:

Deus revelou-se definitivamente na pessoa, vida e doutrina de Jesus Cristo, Seu Filho encarnado, plenitude e termo da Revelação; mas como é que essa Revelação salvadora chegou até nós sem estar a mensagem distorcida? Através da Tradição, interpretada pelo Magistério vivo da Igreja, sendo esta o veículo transmissor da Palavra de Deus; o acontecimento salvífico de Cristo torna-se presente porque há Igreja, comunidade de crentes que guarda, presta culto, transmite a Palavra de Deus, sob a assistência do Espírito Santo, ao longo da História; nesse sentido, a Tradição abrange também a Escritura (é como se fosse Tradição escrita); mas em sentido próprio a Tradição constitui com a Sagrada Escritura um só depósito da Palavra de Deus, confiado à Igreja (DV 10). Para que se trate de Tradição é necessário que seja uma tradição de origem apostólica (da sua pregação, quer esteja na Bíblia, quer seja transmitida oralmente); e que tenha verdadeiro conteúdo salvífico.

 

III – A compreensão católica da Tradição:

O protestantismo, no século XVI tenta  purificar a Igreja das tradições, rejeita a Tradição e considera apenas a Bíblia como Palavra de Deus: sola Scriptura (apenas a Escritura); como reação, a Igreja Católica mostra a importância da Tradição, em termos muitas vezes pouco felizes, dando origem à formulação da teologia das duas fontes; a Tradição significava apenas a transmissão oral derivada dos Apóstolos e transmitida de geração em geração; a partir do Concílio Vaticano II este conceito é alargado, como vimos. A Tradição compreendendo a transmissão oral da Palavra e a Sagrada Escritura.

 

a) Tradição e Escritura:

Na concepção católica atual, mais elaborada, Tradição não é um conteúdo determinado, expresso em afirmações e práticas sempre idêntico a si próprio; é antes a fé vivida da Igreja que ultrapassa sempre a própria expressão. O encontro salvífico com Cristo não pode dar-se apenas com uma Escritura vazia e letrada, mas no encontro com a fé vivida da Comunidade dos crentes, a Igreja e a sua Tradição viva. Especificamente, à mensagem recebida de Jesus, vivida, meditada e transmitida oralmente pelos Apóstolos, chama-se Tradição Apostólica; esta refere-se à transmissão do Evangelho de Jesus. Jesus, além de ensinar os Seus Apóstolos com discursos e exemplos, ensinou-lhes uma maneira de orar, de agir, de conviver. A Tradição tem até prioridade temporal sobre a Escritura, o que demonstra a incoerência da sola Scriptura; de fato: Jesus nunca escreveu nada, nem mandou escrever: o que Ele mandou foi pregar o Evangelho a todos os homens, à Sua Igreja que fundou; por isso, a princípio os Apóstolos, testemunhas do acontecimento Pascal, apenas pregaram oralmente, no culto, na catequese e levaram Cristo pelo testemunho: Jesus está vivo!; só mais tarde é que se começa a fixar o Evangelho por escrito; além disso, foi a Tradição da Igreja que reconheceu os livros da Bíblia que eram inspirados e que fariam parte do cânone (foi no seio de uma Igreja viva que os livros tomaram o seu lugar); a própria Escritura não diz quais os livros inspirados; nela diz-se que muitas outras coisas disse e fez Jesus que lá não constam (Jo 21, 24-25).

 

b) Tradição e Magistério:

Com a morte do último Apóstolo, fica fixada definitivamente a Revelação: é a fase constitutiva da Revelação; nela, o depósito da fé (confiado a toda a Igreja), contem tudo o necessário para a nossa salvação e para seguirmos Cristo; mas o ofício de interpretar autenticamente o depósito é tarefa do Magistério vivo da Igreja; este Magistério é formado pelos bispos em comunhão com o Papa, pois são os sucessores dos Apóstolos. Esse Magistério está ao serviço da Revelação: o que ele faz é interpretar, tornar inteligível e perceptível pelo fiel de cada tempo, o que esse depósito contem; perante a Revelação de Deus transmitida de uma vez por todas por Cristo e pelos Apóstolos, o Magistério não aumenta nada, não gera novas verdades, mas pode aumentar a compreensão das realidades e das palavras transmitidas, através da assistência do Espírito Santo; há uma descoberta e esclarecimento daquilo que estava já implícito na sua Tradição, embora aí não tivesse plena consciência desse fato.

 

c) Classificações da Tradição:

Em relação ao autor: a) Divina ou divino-apostólica (verdades que Cristo e o Espírito Santo revelaram aos apóstolos e estes aos sucessores até chegar a nós); b) Eclesiástica (disposições práticas tomadas pelos apóstolos pela sua iniciativa). Em relação ao conteúdo que se transmite, pode ser: a) Dogmática (se se trata de uma verdade de fé); b) Moral (se é sobre alguma norma referente ao culto e disciplina). Em relação à Sagrada Escritura a Tradição pode ser: a) Constitutiva (quando nos permite conhecer uma verdade que não está contida nas Escrituras); b) Interpretativa (quando expõe uma verdade clara ou obscuramente contida nos livros santos).

 

d) Lugares onde podemos encontrar Tradição… :

A Tradição está contida principalmente: 1ª - Símbolos e profissões de fé, que resumem as principais verdades da fé, por exemplo, o Símbolo dos Apóstolos, o Credo; 2ª - A Sagrada Liturgia e a vida da Igreja: está contida nos ritos da Liturgia, que são  uma confissão implícita da fé, contendo valores dogmáticos; 3ª - Padres e Doutores da Igreja: autores cristãos da antiguidade que se distinguiram pela santidade de vida, pelo profundo conhecimento das Sagradas Escrituras e da doutrina da fé e pela responsabilidade com que desempenharam as suas tarefas pastorais (por exemplo: Santo Inácio de Antioquia, São Clemente Romano, etc); os Doutores têm mais a ciência eminente (por exemplo: Santo Atanásio, São Jerónimo…); 4ª - Definições solenes de concílios ecuménicos e de sumos pontífices onde a fé da Igreja numa determinada verdade se afirma de maneira clara e definitiva (por exemplo: o dogma da Divindade de Cristo); 5ª - Os teólogos que, sob a direção do Magistério, estudam as verdades reveladas e difundem o seu conhecimento (por exemplo: São Tomás de Aquino); 6ª - O sensus fidelium: a totalidade dos fiéis, desde os bispos até aos últimos fiéis leigos, não pode enganar-se no seu conjunto. De qualquer forma, a legitimidade e valor das diversas fontes de Tradição cabe ao Magistério; a Tradição é apenas infalível quando reconhecida pelo Magistério.

 

3.2 – A Sagrada Escritura: “A Sagrada Escritura é Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do divino Espírito Santo” (DV nº9). “Desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo” (S. Jerónimo).

 

3.3 –Bíblia e Tradição: duas fontes?

A Tradição e a Sagrada Escritura constituem um único depósito sagrado da Palavra de Deus, no qual a Igreja peregrina, como num espelho, contempla a Deus, fonte de todas as suas riquezas; à Igreja foi confiado esse depósito, mas o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja e aos bispos em comunhão com o Papa. A Tradição, a Escritura e o Magistério da Igreja estão intimamente ligados, de modo que nenhum pode subsistir sem os outros; todas contribuem eficazmente para a salvação dos homens, sob a ação do Espírito. A Revelação, Palavra de Deus ou Evangelho (em sentido amplo), é transmitida ao Homem à Comunidade cristã pela Sagrada Escritura e pela Sagrada Tradição, atualizadas e interpretadas autenticamente pelo Magistério vivo da Igreja. A Revelação divina chegou até nós através de duas fontes: a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura; mais do que duas fontes, são dois aspectos de uma única fonte: JESUS CRISTO.

 

4. A Revelação na Dei Verbum: um apontamento

Em 1965 nasce a Constituição Dogmática sobre a Divina Revelação, Dei Verbum; teve uma elaboração longa, mas é um documento rico em conteúdo, é a “pérola do concílio”; é um documento sobre a revelação de Deus, como Ele chama o homem e vem ao seu encontro; Compõe-se de seis capítulos: 1º A Revelação (nºs 1 a 6): consiste no mistério do amor de Deus, que deseja chamar a cada um para uma vida de comunhão com Ele; essa Revelação, a Palavra de Deus, é Cristo, Revelador e Revelado, plenitude da Revelação; 2º A Transmissão da Revelação (nºs 7 a 10): define melhor o conceito de Tradição, supera o dualismo das duas fontes, pondo em relevo a relação entre Escritura e Tradição e com o Magistério da Igreja, que é serva das Escrituras; 3º Inspiração e verdade salvífica (nºs 11 a 13): fala da Inspiração na Sagrada Escritura; 4º O Antigo Testamento (nºs 14 a 16); 5º O Novo Testamento (nºs 17 a 20); 6º A Bíblia na vida da Igreja (nºs 21 a 26): ela é para colocar no coração de cada um, não na estante! Maiores novidades: Proclama Jesus Cristo Palavra de Deus e centra tudo n’Ele; supera o dualismo da teologia das duas fontes, que afinal jorram de uma só, que é Cristo; A Igreja é ouvinte, serva da Palavra e não “senhora” da mesma; Coloca a Sagrada Escritura ao alcance de todos e não só dos especialistas: recoloca a Escritura no seu lugar central na vida da Igreja.

 

Fonte: Curso de Formação Cristã de Portugal

 

Leitura completar:

Catecismo da Igreja Católica artigo 50 ao 95

 

Questionário:

Marque somente a resposta correta nas questões abaixo:

1-Qual é a etapa definitiva e completa da Revelação de Deus?

a)      Profetas

b)      Jesus Cristo

c)      Maria

 

 

2- A Revelação foi:

a)Gradual

b)Rápida

c)De uma só vez.

 

3- Qual relação existe entre Escritura, Tradição e Magistério?

a)Não tem ligação nenhuma.

b)Somente a Tradição e a Escritura tem ligação.

c)tem ligação estreita entre si, que nenhuma pode existir sem a outra.

 

 

4-Onde podemos encontrar a Tradição?

a)Creio, liturgia e no dia-a-dia.

b)Filosofia, Creio e Liturgia

c)Creio, liturgia, Padres e Doutores da Igreja

d)Creio, Liturgia e Vida

 

5- “Desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo”, que santo deu-nos tal ensinamento:

a)Santo Tomás de Aquino

b)São João da Cruz

c)São Jerônimo

d)Santo Estevão

 

As respostas do questionário devem ser enviadas para o email  doutrinacatolica@yahoo.com.br.

 

 

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