Natal Nosso Senhor Jesus Cristo

22/12/2012 12:41

 

Jesus é a Palavra que revela Deus aos homens

Liturgia para o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Leituras da 1ª Missa
1ª Leitura: Is 9, 1-6
2ª Leitura: Tt 2,11-14
Evangelho: Lc 2,1-14

Leituras da 2ª Missa
1ª Leitura: Is 62,11-12
2ª Leitura: Tt 3,4-7
Evangelho: Lc 2,15-20

Leituras da 3ª Missa
1ª Leitura: Is 52,7-10
2ª Leitura: Hb 1,1-6
Evangelho: Jo 1, 1-18

* 1 No começo a Palavra já existia:
a Palavra estava voltada para Deus,
e a Palavra era Deus.
2 No começo ela estava voltada para Deus.
3 Tudo foi feito por meio dela,
e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela.
4 Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 Essa luz brilha nas trevas,
e as trevas não conseguiram apagá-la.
6 Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. 7 Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz. 9 A luz verdadeira, aquela que ilumina todo homem, estava chegando ao mundo.
10 A Palavra estava no mundo,
o mundo foi feito por meio dela,
mas o mundo não a conheceu.
11 Ela veio para a sua casa,
mas os seus não a receberam.
12 Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus
a todos aqueles que a receberam,
isto é, àqueles que acreditam no seu nome.
13 Estes não nasceram do sangue, nem do impulso da carne, nem do desejo do homem, mas nasceram de Deus.
14 E a Palavra se fez homem
e habitou entre nós.
E nós contemplamos a sua glória:
glória do Filho único do Pai,
cheio de amor e fidelidade.
15 João dava testemunho dele, proclamando: «Este é aquele, a respeito de quem eu falei: aquele homem que vem depois de mim passou na minha frente, porque existia antes de mim.»
16 Porque da sua plenitude todos nós recebemos,
e um amor que corresponde ao seu amor.
17 Porque a Lei foi dada por Moisés, mas o amor e a fidelidade vieram através de Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai.


* 1,1-18: O Prólogo de João lembra a introdução do Gênesis (1,1-31; 2,1-4a). No começo, antes da criação, o Filho de Deus já existia em Deus, voltado para o Pai: estava em Deus, como a Expressão de Deus, eterna e invisível. O Filho é a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo e mútua comunicação. 
A Palavra é a Sabedoria de Deus vislumbrada nas maravilhas do mundo e no desenrolar da história, de modo que, em todos os tempos, os homens sempre tiveram e têm algum conhecimento dela. Jesus, Palavra de Deus, é a luz que ilumina a consciência de todo homem. Mas, para onde nos conduziria essa luz? A Bíblia toda afirma que Deus é amor e fidelidade. Levado pelo seu imenso amor e fiel às suas promessas, Deus quis introduzir os homens onde jamais teriam pensado: partilhar a própria vida e felicidade de Deus. E para isso a Palavra se fez homem e veio à sua própria casa, neste seu mundo. A humanidade já não está condenada a caminhar cegamente, guiando-se por pequenas luzes no meio das trevas, por pequenas manifestações de Deus, mas pelo próprio Jesus, Manifestação total de Deus. Com efeito, Jesus Cristo, que é a luz, veio para tornar filhos de Deus todos os homens. Um só é o Filho, porém, todos podem tornar-se bem mais do que filhos adotivos: nasceram de Deus. Deus tinha dado uma lei por meio de Moisés. E todos os judeus achavam que essa lei era o maior presente de Deus. Na realidade, era bem mais o que Deus tinha reservado para todos. Porque Jesus, o Deus Filho, o verdadeiro e total Dom do Pai, é o único que pode falar de Deus Pai, porque comunica o amor e a fidelidade do Deus que dá a vida aos homens.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

A Palavra de Deus se fez carne

Se, nas celebrações anteriores, o acento cai na humildade do Messias, na missa do dia é realçada sua eterna grandeza. As duas missas anteriores revelam uma cristologia da “quenose” (esvaziamento/despojamento), a do dia, uma cristologia da glória, do senhorio do Cristo, antecipada na preexistência antes dos séculos. Eis a economia da salvação: Jesus se despojou assumindo nossa condição humana para que nós participássemos de sua glória de Filho de Deus (oração do dia; o mesmo tema é lembrado diariamente na missa, ao misturar-se água ao vinho).

A liturgia expressa menos que a da noite a misteriosa transparência do divino na condição humilde do menino de Belém, mas proclama sua glória “sem véu”. “Teu Deus reina” soa agora o brado que lembra a volta dos exilados (canto da entrada). “Cantai ao Senhor um canto novo, pois ele fez maravilhas” (salmo responsorial).

O tema da manifestação da glória de Deus é acentuado pelo tema da Palavra (2ª leitura, evangelho). A cristologia da exaltação e da preexistência, em Hb e em Jo, está a serviço da manifestação de Deus (cf. tb. “todos verão”, na 1ª leitura). Aos que discutiam se Jesus devia ser contado entre os homens ou entre os anjos, o autor de Hb diz que ele supera a todos (Hb 1,4). O importante para nós sabermos é que Jesus mostra na sua existência terrestre o que o Céu nos quer comunicar: ele é a Palavra que está em Deus desde sempre – a Palavra definitiva, depois de tantas provisórias e incompletas que chegaram até nós através dos profetas.

Essa cristologia da Palavra preexistente é proclamada grandiosamente pelo prólogo do João (evangelho). “No princípio” (cf. Gn 1,1) era a Palavra (da criação, Gn 1,3 etc.), e esta Palavra é aquele que veio ao mundo, o qual a recusou (Jo 1,5.9-11). Tornou-se carne como a nossa, mortal como nós (Jo 1,14, cf. Hb 4,15), e exatamente nessa condição mortal – dando sua vida em amor até o fim – manifestou-se a glória de Deus em Jesus (Jo 1,14.16-18). Nessa carne manifestou-se o ser de Deus, que é amor (cf. Jo 3,16; 1Jo 4,8-9). Assim, o Deus invisível em sua glória se deu a conhecer (Jo 1,18). Tudo o que foi, é e será comunicação de Deus, Jesus o é, desde o começo. Ele é Deus (1,1-3).

A cristologia da preexistência garante que o que Jesus diz e faz, Deus é quem o diz e faz: “É o Pai que realiza em mim sua obra” (Jo 14,10); “Quem me viu, tem visto o Pai” (14,9). Nesse pensamento temos um eco de Pr 8,22-36 e de Eclo 24, que proclamam a obra da sabedoria de Deus no mundo. Não se trata de especulações sobre algum ser celestial que como um astronauta extraterrestre faz uma visitinha à terra! A obra de Deus por excelência, e na qual ele se mostra totalmente, é o que fez o homem verdadeiro e histórico Jesus de Nazaré em nosso meio. Refletindo assim, podemos superar o dualismo que coloca numa bem pequena parte de Jesus sua humanidade e valoriza quase só a parte maior que seria sua divindade (preexistência, onisciência) … O ser divino de Jesus não está à parte, mas está exatamente em seu ser carne. É isso que Jo 1,14 exprime de modo insuperável: a Palavra nasceu (como) carne, e nós contemplamos sua glória.

Sendo essa a dimensão cristológica desta liturgia, não devemos negligenciar sua mensagem a respeito de nós mesmos: pela encarnação do divino, nosso ser é divinizado (oração do dia) e chamado à vida sem fim (oração final). Portanto, com Cristo devemos viver nossa existência humana “assim como Deus a viveria”.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

Os pobres anunciam a graça de Deus

Quando um paroquiano da catedral,piedoso, classe média, por acaso participa da celebração de Natal numa capela de periferia, fica impressionado porque aí a celebração é bem mais alegre do que na catedral. Por que será?

A 2ª leitura de hoje nos anuncia que se manifestou o carinho de Deus para com a humanidade. No evangelho, os mais pobres, os pastores do campo, são testemunhas disso. Constatam a verdade daquilo que o anjo lhes tinha anunciado. Contam-no a Maria, e esta guarda em seu coração as palavras dessa gente humilde. Eles, voltando, louvam e glorificam a Deus. O anúncio dos anjos faz dos humildes pastores – gente que dorme ao relento nas frias noites de invemo da Palestina – as primeiras testemunhas da realização do projeto de Deus: o projeto de mandar a nós quem nos liberte de verdade. Eles verificam o sinal que o anjo lhes deu: o menino é pobre como eles, está deitado numa manjedoura. Eles, os pobres, serão também os primeiros destinatários do grito de libertação de Jesus: “Felizes vós, os pobres … ” (Lc 6,20). Existe entre Jesus, Maria e os pastores uma solidariedade visceral, que até causa inveja a quem se julga importante.

Prefigura-se assim o que deverá ser a vida cristã. O “estilo cristão” é o estilo desses pobres – os pastores, os pais de Jesus – que o evangelho apresenta: simplicidade, honestidade, transparência, ternura; pois Deus mesmo mostrou sua ternura para conosco. Por outro lado, este estilo inclui também a consciência da missão de anunciar ao mundo a manifestação do carinho de Deus.

A semelhança com as comunidades eclesiais dos pobres é contundente. Enquanto nas igrejas dos bairros ricos cada iniciativa e cada celebração custam esforço enorme para conseguir alguma participação e para não ferir os privilégios e preferências tradicionais, nas capelas da periferia ressoa a alegria espontânea de quem se sabe agraciado por Deus. Parece necessário mesmo que a mensagem alegre do Natal passe pelos humildes, pois estes são especialistas em receber e partilhar.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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