Reflexão: Quarta-feira de cinzas / Ano C

12/02/2013 11:24

 

Reflexão: Quarta-feira de cinzas / Ano C

 

"Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus" (Sb 11, 24s.27).
 
 
Iniciamos com a quarta-feira de cinzas um tempo muito especial na vida da Igreja Católica. A Igreja quer santificar o tempo e neste sentido nos convida a viver um momento de retiro espiritual: a santa quaresma.
 
Na santa quaresma tudo nos leva a pensar no tripé de conduta de vida: a penitência, percorrendo estes quarenta dias preparando-nos para a Páscoa, quando então celebraremos o mistério da morte e ressurreição de Nosso Senhor, centro da nossa fé, dedicando maior atenção para a oração, ao jejum e À reconciliação com Deus e com os nossos semelhantes.
 
Meus irmãos,
 
As cinzas que serão impostas no dia de hoje são o principal símbolo litúrgico do início da santa quaresma, tanto que dão o nome ao dia e ao sagrado ofício litúrgico. As cinzas representam a pequenez do homem. Abraão ao falar com o Senhor, no Antigo Testamento, intercedendo por Sodoma, considera-se uma nulidade diante de Deus e, por isso mesmo, considera uma ousadia fazer um pedido: "Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza" (Gn 18,27). Por isso, ao recebermos as cinzas na liturgia hodierna vamos pensar em duas atitudes fundamentais da vida cristã: arrependimento e penitência, purificação e ressurreição.
 
Receber as cinzas é um compromisso de conversão: o abandono do pecado, de penitência pública, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, purificando de nossas faltas e ressurgindo para uma vida nova, a vida da graça e da amizade com Deus, para viver nos quarenta dias do tempo quaresmal uma permanente e contínua vontade de retorno à vida da graça e mudança de vida, atendendo a própria oração de imposição de cinzas: "Convertei-vos e credes no Evangelho".
 
Irmãos caríssimos,
 
Quaresma é tempo de oração, de penitência, de jejum e de abstinência de carne, tudo isso em função de ser a morte e a ressurreição de Jesus o centro da celebração de nossa fé. Por isso, para fazer penitência e se converter, é preciso muita humildade, muita disposição de mudança e muita persistência.
 
A penitência começa conosco mesmos, dentro de nossas pequenas e grandes limitações, procurando corrigir nossos desvios e pecados e buscando lucrar a graça santificante de Deus. O orgulhoso é incapaz de fazer penitência, pois ela pressupõe humildade, o reconhecimento da pequenez de nossa natureza humana diante do Criador, diante do próprio mistério da criação.
 
Irmãos e irmãs,
 
A sagrada liturgia insiste na autenticidade da penitência: rasgar o coração, não apenas as vestes. "Agora - diz o Senhor -, voltai para mim com todo o vosso coração com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar do castigo" (Joel 2,12-13). Além disso, a liturgia insiste no caráter interior do jejum, juntamente com as outras "boas obras", a esmola e a oração.
 
Na segunda carta de São Paulo aos Coríntios, o apóstolo proclama o novo tempo de reconciliação com Deus, com vistas à iminência da Parusia: "Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus" (2Cor 5,20b-21).
 
Meus irmãos,
 
A celebração de hoje tem outro significado muito importante: louvar e agradecer ao Senhor pela sua abundante misericórdia: "Lembra-te de que és pó e ao pó tornarás". Perante a grandiosidade de Deus nós somos um "verme", o menor, o mais ínfimo de todos os servidores. Por isso, Deus nos ama com profundidade e derrama sobre nós a sua misericórdia e a sua paz. Mesmo sendo pó, Deus sempre se lembrará de nós e cumprirá a Sua promessa de conceder o Reino das Bem-aventuranças.
 
Fazer penitência não é ficar triste, mas, pelo contrário, é ficar alegre e feliz. "Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos" (Sl 50), rezamos no salmo responsorial desta celebração. É o canto da humildade clamando a misericórdia do Deus da vida, sempre pronto a nos acolher, santos pela sua graça e pobres pecadores pelas nossas misérias, e nos coloca dentro da economia de sua salvação. Nesse contexto de penitência e conversão, devemos perceber a misericórdia de Deus que confia com abundância na capacidade do homem de assimilar o Reino de Deus.
 
Desta forma, a liturgia de hoje nos ensina que penitência é um reflexo de reparação depois de uma falta. Sentimos a insuficiência do homem natural que somos. Tratamos de reparar isso, mas sabemos que o único que pode reparar mesmo é Deus. Por isso, a melhor penitência é: abrir espaço para Deus.
 
Abrindo espaço para Deus, caminharemos quarenta dias, para vê-lo em toda a sua majestade, o Senhor Ressuscitado que na cruz morreu para que ressuscitemos com Ele. Amém!
 
Padre Wagner Augusto Portugal
Colunista do Portal Ecclesia.
Sacerdote da diocese de Campanha, graduado em direito pela Faculdade de Direito de Varginha, estudou filosofia e teologia no Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, mestre em Direito Canônico.

 

 
Da redação do Portal Ecclesia.
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