REFLEXÃO DO 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

30/09/2012 10:44

27º Domingo do Tempo Comum/Ano B

“O que Deus uniu, o homem não deve separar”

27º Domingo do Tempo Comum/Ano B
1ª Leitura: Gn 2,18-24
Salmo: 127
2ª Leitura: Hb 2,9-11
Evangelho: Mc 10,2-16

2 Alguns fariseus se aproximaram deJesus. Queriam tentá-lo e lhe perguntaram se a Lei permitia um homem se divorciar da sua mulher. 3 Jesus perguntou: «O que é que Moisés mandou vocês fazer?» 4 Os fariseus responderam: «Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e depois mandar a mulher embora.» 5 Jesus então disse: «Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento. 6 Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, 8 e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar.»

10 Quando chegaram em casa, os discípulos fizeram de novo perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: «O homem que se divorciar de sua mulher e se casar com outra, cometerá adultério contra a primeira mulher. 12 E se a mulher se divorciar do seu marido e se casar com outro homem, ela cometerá adultério.»

O Reino pertence aos pobres -* 13 Depois disso, alguns levaram crianças para que Jesus tocasse nelas. Mas os discípulos os repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus ficou zangado e disse: «Deixem as crianças vir a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas. 15 Eu garanto a vocês: quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele.» 16 Então Jesus abraçou as crianças e abençoou-as, pondo a mão sobre elas.

* 10,1-12: Jesus recusa ver o matrimônio a partir de permissões ou restrições legalistas. Ele reconduz o matrimônio ao seu sentido fundamental: aliança de amor e, como tal, abençoada por Deus e com vocação de eternidade. Diante desse princípio fundamental, marido e mulher são igualmente responsáveis por uma união que deve crescer sempre, e os dois se equiparam quanto aos direitos e deveres.

* 13-16: Aqui a criança serve de exemplo não pela inocência ou pela perfeição moral. Ela é o símbolo do ser fraco, sem pretensões sociais: é simples, não tem poder nem ambições. Principalmente na sociedade do tempo de Jesus, a criança não era valorizada, não tinha nenhuma significação social. A criança é, portanto, o símbolo do pobre marginalizado, que está vazio de si mesmo, pronto para receber o Reino.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

Ser discípulo: o matrimônio segundo o Projeto de Deus

O tema de hoje é o matrimônio, porém, não sob o ângulo da casuística, mas sob o ângulo da vontade de Deus. Pois Jesus veio trazer presente o Reino de Deus, também quanto ao matrimônio: é preciso que seja restaurado no sentido que Deus mesmo lhe deu, desde o início. Este sentido se encontra descrito em Gn 2 (1ª leitura): preocupado com a felicidade de Adão, “o Homem”, Deus lhe procura uma companhia, mas como entre os outros seres vivos não a encontra, faz a mulher, da “metade” do homem. Esta narração significa a complementaridade de homem e mulher, que se transforma numa unidade de vida (“uma só carne”), quando o homem opta por uma mulher e, por causa desta opção, deixa sua família de origem e a segurança que lhe oferecia. Pois casar é um risco e um compromisso.

Na história da humanidade e de Israel, a vontade inicial de Deus nem sempre se realizou, e tal deficiência não é curada pelo progresso ou pela evolução. Estamos hoje tão longe do ideal de Deus quanto as civilizações antigas. O problema é que o plano de Deus só se realiza no amor, e este ficará sempre igualmente difícil para a humanidade. Sempre houve muito desamor. Chefes de família patriarcal que achavam que precisavam de outra esposa. Casamentos interesseiros, que não deram certo. E muitas outras razões pelas quais os homens achavam legítimo despedir suas mulheres. Para pelo menos lhes dar uma proteção legal, a legislação deuteronomística previu que as mulheres repudiadas recebessem um certificado (Dt 24, 1). Os escribas, sabendo que Jesus não gostava da prática do divórcio (como antes dele Ml 2,14-16), quiseram experimentar se ele também rejeitava a Lei a respeito do certificado de divórcio (evangelho). A resposta de Jesus é astuta e adequada ao mesmo tempo. A legislação do divórcio é legislação feita para enfrentar a maldade humana (como a grande maioria das leis). Mas o plano de Deus a respeito do matrimônio se situa num outro nível, o da vontade de Deus, que é amor. Jesus não veio fazer casuística, ensinar qual é o mal menor. Ele veio trazer presente o Reino de Deus, o fim do mal. Para praticar o divórcio, a humanidade não precisa de uma palavra de Jesus, de uma mensagem de Deus. Já o faz por conta própria. Mas para voltar ao sonho de Deus referente ao amor humano, sim, precisa do evangelho.

(Na leitura completa do evangelho, segue agora um trecho sobre ser como crian­ças para receber o Reino de Deus. A mensagem reforça a anterior: para aceitar a vonta­de originária do Pai, é preciso ser simples e humilde.)

Começa hoje, na 2a leitura, uma seqüência da Carta aos Hebreus. A mensagem é um tanto difícil. Exige uma explicação especial, para colocar os ouvintes a par dos princípios da “cristologia sacerdotal” que marca esta carta. Para o autor de Hb, Jesus é sacerdote, “santificador”, por excelência, por serem sua humanidade e despojamento os instrumentos pelos quais ele santifica toda a condição humana. Santificou-nos por sua fraternidade conosco.

Chamam nossa atenção as belas orações. Enquanto a oração do dia testemunha uma ilimitada confiança filial, a oração final condensa toda uma teologia eucarística: o sinal produz o que ele significa, a transformação do homem naquilo que ele recebe no sacramento: em Cristo mesmo.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

O matrimônio segundo Jesus

Os evangelhos deste período litúrgico constituem uma sequência que podemos resumir no termo “discipulado”. O evangelista Marcos mostra Jesus a caminho, subindo a Jerusalém (Mc 8,31-10,45). Caminhando, Jesus ensina o caminho do Filho do Homem: sofrimento, cruz e ressurreição. Este ensinamento itinerante de Jesus é balizado pelos três anúncios da paixão (8,31-32; 9,30-32; 10, 32-34). Esses anúncios são entremeados por ensinamentos que explicam em que consiste ser discípulo e seguir Jesus. Ora, também um casamento fiel faz parte do seguimento de Jesus, do discipulado. Esse é o evangelho de hoje.

A legislação matrimonial do Antigo Testamento era um pouco mais frouxa que a moral católica hoje. Não proibia o homem de ter diversas mulheres, apenas aconselhava que não fossem muitas. Permitia ao homem despedir uma mulher quando notava algo desagradável (o quê, isso era objeto de discussão entre os doutores). Moisés até ordenou que, no caso de a mulher ser despedida, ela recebesse um atestado dizendo que estava livre (Dt 24,1); uma carta de demissão para que procurasse outro emprego… Por isso, Jesus é radical: quem despede sua mulher para casar com outra comete adultério contra ela, é infiel a seu amor. E para arrimar sua opinião, Jesus invoca a primeira página da Bíblia, bem anterior à “jurisprudência” de Moisés: Deus os criou homem e mulher, o homem deixará pai e mãe, os dois serão uma só carne – uma só realidade humana – e o que Deus uniu o homem não separe (1ª leitura). Assim é que Deus quis as coisas desde a criação. Ora, Jesus é o Messias que vem restaurar as coisas conforme o plano de Deus. Tinha de falar assim mesmo. (Outra coisa é quando um governo civil admite o divórcio: o governo não é o Messias… Tem de fazer como Moisés: dar uma legislação para a fraqueza, para a “dureza de coração”, para limitar o estrago…)

O projeto de fidelidade absoluta no amor faz do matrimônio fiel um sinal eficaz do amor de Deus para seu povo: um sacramento. Em Ef, 5,22-33, Paulo relaciona o amor de esposo e esposa com o amor que Cristo tem para a Igreja e chama isso de grande mistério ou sacramento. Ora, neste mistério de amor está presente o caminho de Cristo: assumir a cruz nos passos de Jesus.

Essa sublime vocação do matrimônio indissolúvel é hoje fonte de violentas críticas à Igreja. Que fazer com os que fracassam? Objetivamente falando, sem inculpar ninguém – pois desculpa só Deus entende, e perdoa – devemos constatar que há fracassos, e que fica muito difícil celebrar um “sinal eficaz do amor inquebrantável de Jesus” na presença de um matrimônio desfeito… Por isso, a Igreja não reconhece como sacramento o casamento de divorciados. Teoricamente, se poderia discutir se o segundo casamento não pode ser aceito como união não-sacramental (como se faz na Igreja Ortodoxa). E observe-se que muitos casamentos em nosso meio são, propriamente falando, inválidos, porque contraídos sem suficiente consciência ou intenção; poderiam, portanto, ser anulados (como se nunca tivessem existido).

Em todo caso, o matrimônio cristão, quando bem conduzido em amor inquebrantável, é uma forma de seguir Jesus no caminho do dom total.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

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