REFLEXÃO DO 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM - REINO É DOM E PARTILHA

13/10/2012 10:59

 

Reino é dom e partilha

28º Domingo do Tempo Comum/Ano B

1ª Leitura: Sb 7,7-11

Salmo: 89

2ª Leitura: Hb 4,1.2-13

Evangelho: Mc 10,17-30

 

* 17 Quando Jesus saiu de novo a caminhar, um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?» 18 Jesus respondeu: «Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais. 19 Você conhece os mandamentos: não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; não engane; honre seu pai e sua mãe.» 20 O homem afirmou: «Mestre, desde jovem tenho observado todas essas coisas.» 21 Jesus olhou para ele com amor, e disse: «Falta só uma coisa para você fazer: vá, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me.» 22 Quando ouviu isso, o homem ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque ele era muito rico.

23 Jesus então olhou em volta e disse aos discípulos: «Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!» 24 Os discípulos se admiraram com o que Jesus disse. Mas ele continuou: «Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25 É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus!» 26 Os discípulos ficaram muito espantados quando ouviram isso, e perguntavam uns aos outros: «Então, quem pode ser salvo?» 27 Jesus olhou para os discípulos e disse: «Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível.»

28 Pedro começou a dizer a Jesus: «Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.» 29 Jesus respondeu: «Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, 30 vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna.

* 17-31: Para entrar no Reino (ou vida eterna) é preciso mais do que observar leis ou regras. O Reino é dom de Deus aos homens, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade, abolindo o sistema classista. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram no Reino. E o que acontece quando a gente deixa tudo para seguir a Jesus e continuar o seu projeto? Encontra nova sociedade, embora em meio à perseguição, e já vive a certeza da plenitude que virá.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

 

Ser discípulo: investir tudo no reino

Existe, no judaísmo, toda uma tradição que considera a sabedoria como o maior bem que se possa alcançar na terra (1ª leitura). Seu valor supera tantas outras coisas consideradas valiosas: pedras preciosas, ouro etc. Mesmo a saúde não vale tanto quan¬to ela. Ora, se uma coisa vale mais do que outra, e se impuser uma opção entre as duas, a gente tem que abandonar a que menos vale. É o que acontece com o Reino de Deus. Encontramos no evangelho de hoje um homem que combinava riqueza e vida decen¬te (12). Tudo bem, sem problemas. Está à procura da “vida eterna”, a vida do “século dos sé¬culos”, ou seja, do tempo de Deus, que ninguém mais poderá tirar. Poderíamos dizer: procura a verdadeira sabedoria, o rumo ideal de viver. Pedagogicamente, Jesus lhe lembra primeiro o caminho comum: observar os mandamentos. O homem responde que já está fazendo isso aí. Então, Jesus o conscientiza de que isso não é o suficiente. Coloca-o à prova. Se realmente quer o que está procurando, terá de sacrificar até sua ri¬queza (não vale a sabedoria do A.T. mais do que ouro?). O homem desiste, e vai embo¬ra. E Jesus fica triste, pois simpatizou com ele (evangelho).

Humanamente falando, é impossível um rico entrar no Reino que Jesus traz pre¬sente; tem amarras demais. Mas para Deus, tudo é possível. O homem rico quis entrar no Reino de Deus na base de suas conquistas: a vida decente, a observância dos mandamentos, a sabedoria inócua de ouvir mestres famosos, entre os quais Jesus de Nazaré (10,17; Jesus já rompe sua estrutura mental, insinuando que por trás do título “bom mestre”, que o homem lhe atribui, se esconde a exigência de uma obediência total, pois só Deus é bom … ). Ora, o que Jesus lhe pede é, exatamente, superar este modo auto-su¬ficiente de proceder. Jesus quer que ele se entregue nas mãos de Deus, desistindo da vida decente cuidadosamente construída na base do trabalho, do comércio, do bom comportamento. Vender tudo e dar aos pobres, e depois, vir a seguir Jesus, fazer parte daquela turma de aventureiros galileus que Jesus reuniu em redor de si. Humanamente impossível. Só é possível para quem se entrega a Deus. É este o teste que Jesus aplicou. O homem rodou.

O resto do evangelho de hoje diz a mesma coisa em outros termos. Pedro, entusi¬asta, comparando-se com o rico, exclama que eles, os Doze, abandonaram tudo e se¬guiram a Jesus: que receberão agora? Jesus não confirma que Pedro realmente abando¬nou tudo, embora no momento da vocação parecesse que sim (1,16-20). Mas repete a exigência de colocar realmente tudo o que não for o Reino no segundo plano; e então a recompensa será o cêntuplo de tudo que se abandonou. Podemos verificar isso na reali¬dade: sendo o Reino, desde já, a comunhão no amor de Deus, já recebemos irmãos e ir¬mãs e pais e parceiros e tudo ao cêntuplo, neste tempo; e ainda (retomando o início da perícope, cf. 10,17): “a vida eterna”, no tempo que é o de Deus.

Jesus não exige árido ascetismo, fuga do mundo, e sim, correr o risco de ir ao mundo em sua companhia, abandonando tudo o que nos possa impedir de fazer do Reino o critério decisivo. Já o próprio modo de abandonar faz parte do Reino: dar aos pobres (sempre há pessoas para quem nossos bens são mais vitais do que para nós mesmos). Neste sentido, o caminho da vida não é tanto o resultado de cálculo e esforço humano, mas de entusiasmo divino – ao qual nos entregamos com a lucidez que só a luz de Cristo nos dá. A 2ª leitura acentua a mensagem do evangelho. Continua a Carta aos Hebreus. Jesus encama a Palavra de Deus, ativa na História, decisiva como uma espada de dois gumes: diante dela, devemos optar; neutralidade não existe.

A oração do dia merece ser proferida num ambiente de extrema concentração: a graça de Deus nos preceda e acompanhe para que prestemos atenção ao bem que somos chamados a fazer. Não somos nós que inventamos o bem, Deus o coloca como tarefa no nosso caminho. Por isso, devemos pertencer plenamente a ele, para que não passemos ao lado sem perceber as oportunidades que nos são oferecidas.

12. A liturgia segue o texto de Mc, no qual o homem não é um jovem rico e no qual não usa o termo “Reino dos Céus”, como estamos acostumados a ouvir no texto de MT, mas sim, “Reino de Deus”.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

Rico pode seguir Jesus?

Um homem rico pergunta a Jesus o que deve fazer para “ter a vida eterna em herança” (evangelho). Jesus vê que o homem está preocupado com o que é bom – “Só Deus é bom, e mais ninguém”. O homem é um judeu exemplar, observa todos os mandamentos. Mas, segundo Jesus, isso não é o suficiente para ele: é capaz de algo mais. Simpatizando com ele, Jesus o convida para que o acompanhe em sua missão. “Vai, vende tudo que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu”. Diante disso, o homem se desanima: é rico demais. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. (O Reino de Deus não é propriamente o que costumamos chamar de “Céu”; é o modo de viver que Jesus veio instaurar, o reino de amor, de justiça e de paz, onde é feita a vontade de nosso Pai celeste. O rico não conseguiu entregar-se a essa nova realidade … )

Os discípulos se assustam com a severa observação de Jesus. Então, ele acrescenta: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Portanto, vamos deixar o assunto nas mãos de Deus.

No fim, Jesus fica triste porque uma pessoa tão prendada não foi capaz de segui-lo pelo caminho e assim gozar, desde já, a alegria de participar da implantação do Reino. Suas qualidades humanas não foram suficientes para superar o apego aos bens do mundo. Por si mesmo, não conseguiu libertar-se. Só Deus o poderia libertar.

Contrariamente à opinião corrente, a riqueza não deve ser vista como privilégio, como recompensa de Deus, mas como empecilho para participar do Reino. Os pobres têm maior facilidade em arriscar tudo para realizar a partilha e a renúncia que o Reino exige. Têm menos a perder. Ora, se Jesus aconselha esse desapego tão difícil, mas para Deus nada é impossível, convém pedir a Deus essa graça do desapego, para ter a felicidade de participar do Reino que Jesus veio implantar. Então, a gente recebe a “herança eterna”.

Segundo a 1ª leitura, Salomão pediu a Deus não a riqueza, mas a capacidade de governar com sabedoria. Na realidade, Deus lhe deu também a riqueza, mas apenas como sobremesa; o importante mesmo é a sabedoria para bem servir.

Lição: o rico não deve pensar que vai conseguir a herança eterna com base em suas posses, poder, capacidade intelectual ou coisa semelhante. Tem de pedir a Deus, como graça, algo que não está incluído no pacote do poder: a capacidade de participar do Reino. Também não deve estar exclusivamente preocupado com “salvar sua alma” quando tudo lhe for tirado, mas peça desde hoje a Deus a graça do desapego para participar desse Reino, que já começou no mundo daqueles que seguem Jesus. Na alegria do servir encontrará a garantia da “herança eterna”.

Se um rico participa ativamente do Reino, não será por causa de sua riqueza, mas apesar dela. Tendo bens, transforme-os em instrumentos de comunhão fraterna e viva como se não os possuísse.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

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